A queda da The CW: o canal que marcou uma geração

Em 2022, uma grande parte das séries do canal The CW foram canceladas, incluindo séries que são transmitidas em Portugal. Recentemente, a estação foi comprada pelo Nexstar Media Group que promete implementar uma nova estratégia.

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THE CW/WALLPAPERCAVE

Durante o mês de Agosto de 2022 era certo e sabido que o canal The CW – responsável por muitas séries populares do género young adult , ia ser comprada pelo gigante Nexstar Media Group. Foi revelado, no site Variety, que a empresa iria adquirir 75% das acções da CW Network, que pertenciam à Paramount Global e à Warner Bros. Discovery.

A compra da The CW, dentro destes trâmites, foi completada no passado dia 3 de Outubro.

Naturalmente, uma aquisição desta envergadura não viria sem algumas mudanças, que já foram deixadas claras por alguns representantes da Nexstar. As palavras são de Lee Ann Gilha, a directora financeira, que afirma ter a plena noção de que a The CW não é lucrativa, e que isso não é algo muito comum. Nas suas palavras, «nenhuma outra rede televisiva opera num estado de constante prejuízo». É este o mindset que guia a definição que a empresa Nexstar pretende aplicar daqui em diante na gestão da rede televisiva que adquiriu.

Resta então saber: o que será feito da The CW como a conhecemos, rainha das séries jovens? O que irá acontecer às produções que, com mais ou menos qualidade, fizeram e fazem parte do nosso imaginário?

As séries “The CW” e o produto de uma geração

O canal (ou rede televisiva) The CW nasceu em 2006, fruto da junção entre os estúdios CBS, sob a forma ViacomCBS e a Warner Bros. Ganhou o seu nome pela junção das primeiras letras de cada um: CBS e Warner.

Desde esse momento até aos dias de hoje, o canal conseguiu um feito que poucas estações televisivas se podem dar ao luxo de gabar: tornou-se o seu próprio género. Do fantástico ao juvenil e a séries que criaram das maiores legiões de fãs pelo mundo inteiro, foi do mundo sobrenatural e do young adult que se fez a The CW que conhecemos.

Tudo começa com a decisão de “pescar”, quais fénixes nascidas das cinzas, algumas das grandes produções dos seus canais de origem. “One Tree Hill”, “Smallville”, “Supernatural”, entre outras foram o pontapé de saída deste gigante.

A legião de fãs de “Supernatural” deixou poucas dúvidas: este era um género que atraía a população mais jovem, que gerava interesse e, acima de tudo, que dava audiências. Focaram-se num público-alvo feminino entre os 18 e os 35 anos e foi às cavalitas destes grandes sucessos que o canal The CW começou a criar cada vez mais produções dentro do género.

Depressa fomos apresentados aos êxitos “The Vampire Diaries” e “The Originals” – fruto da histeria que rondava os filmes e livros da “The Twilight Saga” que, qual efeito cascata, pedia mais vampiros, mais lobisomens, mais sobrenatural. Do mundo dos monstros ao mundo dos heróis foi um salto: em 2012 apareceu a primeira série do universo DC no canal e chega pelas mãos de Greg Berlanti – “Arrow”.

Esta aposta foi só o primeiro degrau de uma escada infinita de séries vindas do Universo DC que se viriam a tornar aquilo que ficou globalmente conhecido como o “Arrowverse”. De “The Flash” a “DC’s Legends of Tomorrow”, “Supergirl”, “Batwoman, “Superman & Lois” e a tantas outras que tornaram a The CW na rede televisiva com o seu próprio género.

Afinal, quantos de nós dizemos ou ouvimos dizer que «é uma série CW», só pelo género que nos é apresentado?

Jared Padalecki e Jensen Ackles em “Supernatural” | THE CW

A estratégia Nexstar e o seu impacto

Todas estas séries, de uma forma ou de outra, tiveram a sua expressão global, sendo que muitas foram transmitidas em canais portugueses ou, hoje em dia, estão disponíveis em plataformas de streaming em Portugal. Mas nem tudo são rosas e, apesar do impacto global que este canal teve e tem, o certo é que o retorno do investimento parecia não estar a ser suficiente para manter a rede à tona.

Assim é que, tal como é detalhado no início deste artigo, a estação televisiva foi comprada pela Nexstar, que traz consigo uma estratégia de abordagem bem diferente da que tem sido feita até então. Perry Sook, o CEO da gigante da media, não poupa as palavras no que toca a reestruturações financeiras, confirmando que está nos planos «aplicar os mesmos critérios financeiros rigorosos» ao canal que têm aplicado em todas as outras áreas de negócio em que estão envolvidos.

Palavras destas não caem em saco roto, e assim é que no espaço de um mês, a The CW já começa a sentir o impacto desta aquisição. A notícia é dada em exclusivo no site Variety, que confirma que houve um layoff de cerca de 30-40 funcionários onde vários foram dispensados – incluindo executivos de longa data, como o director de comunicação Paul Hewitt. Fontes confirmam também ao mesmo site que a estratégia da Nexstar irá passar por «conteúdo não ficcional e programação noticiosa».

O certo é que todas estas alterações estratégicas e organizacionais têm um impacto para os espectadores que não passa despercebido. Nos últimos meses, ainda pré-compra da estação televisiva, algumas das séries mais badaladas do canal tinham o seu fim à vista. Se “The Flash”, “Roswell, New Mexico” ou “Riverdale” foram uma espécie de prelúdio, o que se segue é um filme com um final bastante claro.

Para além destas produções, também assistimos ao cancelamento este ano de séries como “4400,” “Batwoman,” “Charmed,” “Dynasty,”, “DC’s Legends of Tomorrow,” “In the Dark,” “Legacies,” ou “Tom Swift,”. Na última semana foram canceladas “Nancy Drew”, protagonizada por Kennedy McMann, e “Stargirl”, uma das últimas resistentes do tão conhecido “Arrowverse”.

Paul Wesley e Ian Somerhalder em “The Vampire Diaries” | THE CW

O fim da era “Supernatural”, “The Vampire Diaries” e “Arrowverse

Tudo o que começa tem de ter um fim, e parece que o deste CW-Verse está a chegar. “Supernatural”, já bem longe e com um final entregue, a série-filha de “The Vampire Diaries” – o spin-off “Legacies” – cancelada, e as séries do “Arrowverse” com destino à guilhotina: são poucas as apostas que ficam para continuar a honrar o legado da The CW.

Mesmo as que ficam ainda não têm um futuro certo. “The Winchesters” – o spin-off de “Supernatural” -, “Walker” ou “Walker: Independence” ainda estão no limbo da sua renovação. A informação foi dada em exclusivo ao site Deadline, que confirma que a Nexstar optou por não fazer nenhuma encomenda antecipada de mais episódios. Garante que isso não cancela automaticamente as séries, mas o certo é que também não lhes dá segurança.

Parece ser claro como a água que a estratégia da Nexstar não dará prioridade a séries de televisão – e com isso um legado de conteúdos fica pelo caminho. Gostando mais ou menos, o certo é que desta história de quase 20 anos, surgiram produções que irão para sempre marcar o imaginário de todos os espectadores das séries deste canal. Apenas o futuro saberá o que está reservado para esta estação televisiva.

Chegou a tua hora de entregares a capa, o sal e as armas, The CW.