O último dia da Comic Con Portugal recheou-se de portugalidade, mas ainda assim houve espaço para mais um nome internacional: Daniel Gillies foi o último convidado estrangeiro a pisar o palco deste evento da cultura pop, e nada podia ter preparado o público para a montanha russa de personalidade que Gillies se revelou ser.
“Always and forever”
Elijah Mikaelson é a personagem mais conhecida de Daniel Gillies, mas nem por isso a sua favorita. «Eu nunca achei que o Elijah era nobre, sempre achei que ele era meio idiota», confessa o actor entre risos. «Sempre achei que ele tinha uma doença mental», continua. As séries “The Vampire Diaries” e “The Originals” traçaram a história deste Elijah Mikaelson, um vampiro milenar com uma devoção doente à sua família e a costumes nobres e antigos. Para além da sua idade, também faz parte da caracterização deste Mikaelson um sotaque que deu algum trabalho a Gillies, segundo o próprio revela. «Quis que ele soasse como se viesse do mundo antigo. Inspirei-me em estrelas de cinema dos anos 30 e 40, que têm uma espécie de vocabulário e cadência vocabular britânica, mas falam com sotaque americano».
O actor de “The Vampire Diaries” e “The Originals” revela ainda que o plano para o sotaque americano do irmão Elijah nem sempre foi tão concreto assim, até porque a decisão foi tomada muito em cima da hora. «Foi-me pedido que fizesse um sotaque britânico. Depois americano. Depois a decisão balançou três ou quatro vezes até me perguntarem ‘Podes fazer um sotaque britânico-americano?’», revela Daniel que acrescenta que a sua reação a esse pedido foi digna de palavreado calão.
De qualquer forma é preciso frisar que dar vida a Elijah Mikaelson, apesar de ter sido bastante bem vindo para Daniel Gillies, não foi um grande desafio, ou uma grande conquista do ponto de vista da arte. «A série é tonta, todas as minhas cenas foram estranhas. Eu sou uma pessoa extremamente bem disposta e divertida, então quanto mais tivesse cenas sérias [da personagem Elijah Mikaelson], mais eu me ria», revela o actor. Ainda confessa que, desde o início, tinha uma sensação muito positiva sobre quanto tempo iría estar a representar esta personagem, apesar de ser comum na série morrerem muitas personagens. Apesar de tudo, não esconde que entregou tudo de si ao vampiro milenar e que, mesmo não gostando da personalidade da personagem, sente um carinho muito especial por ela.
Percebe-se pelo tom que o actor adopta durante as suas respostas, que está na sua natureza levar tudo o que diz com algum espírito desportivo e descontraído. Num painel recheado de fãs de “The Vampire Diaries” e da personagem que o fez saltar para a luz da ribalta, também existiram momentos para brincar com favoritismos entre personagens, que Gillies desviou muito bem para não se envolver em intrigas da internet, ou com a aparência do seu cabelo enquanto Elijah Mikaelson, que elicitou uma resposta mais séria. «Não faz parte do meu trabalho ser bonito e sensual para ti, faz parte do meu trabalho representar o meu papel», responde a uma fã, talvez de uma forma mais assertiva, depressa regressando ao tom mais humorístico que pautou a sua presença no evento.
De vampiro adorado a vilão perverso
Daniel Gillies não foi nem é só um vampiro original e foram outros projectos que lhe trouxeram alguns desafios mais motivantes na sua carreira. Com um extenso percurso em vários géneros de filmes, o actor ainda teve tempo de deixar a sua marca em Bollywood. Com “Bride and Prejudice” sentiu que estava rodeado de pessoas que admirava, que talvez isso até tivesse feito com que tivesse enfrentado o seu papel de forma demasiado séria. Ainda teve oportunidade também de fazer parte de “Saving Hope” durante algumas temporadas e revela que trabalhar para uma Netflix é muito diferente de trabalhar para uma The CW. “Há muito mais liberdade criativa com a Netflix”, confessa.
O actor, que tem raízes neozelandesas, ainda teve oportunidade de falar sobre o filme “Coming Home in The Dark” onde deu vida a um vilão chamado Mandrake, que considera ser um dos melhores thrillers dos últimos 10 anos. «Não teve publicidade nenhuma», confessa Gillies, que atribui alguma culpa ao facto do filme ter estreado durante a pandemida provocada pela Covid-19. «É o melhor trabalho que alguma vez fiz», termina. Provavelmente não será para sempre o seu melhor trabalho, uma vez que o actor está, de momento, a escrever um guião que pretende protagonizar e que revela ser o papel dos seus sonhos.
Gillies tornou-se numa espécie de lufada de ar fresco pela honestidade que trouxe à Comic Con Portugal. Sem nunca perder a piada, ou a descontração, é imediato a confessar que adora vir a convenções por duas razões: poder conhecer fãs do mundo inteiro mas também garantir suporte financeiro para si e para a sua família que lhe permita, à posteriori, optar por aceitar trabalhos mais artísticos e independentes, que lhe dão mais prazer.