Para os “Capitães do Açúcar” não vai nada, nada, nada? Tudo

Numa completa overdose saudável, "Capitães do Açúcar" traz ao pequeno ecrã a luta de uma geração através de uma premissa alucinante de comer e chorar por mais.

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"Capitães do Açúcar" | TERESA PAMPLONA

Já está inteiramente disponível na RTP Play a nova série “Capitães do Açúcar”. Esta é a história de Bernardo, Neves, Antunes e Cruz, e de todas as pessoas que se cruzam na montanha-russa que são as suas vidas. A aventura em que se envolvem de produção de açúcar – esta substância psicotrópica criada para a própria série -, vai levá-los por uma viagem de acidentes, insucessos e revelações e colocar até as suas vidas em risco.

É quase obrigatório falar no quão fácil é ver “Capitães do Açúcar”.  A sensação de urgência que a série traz nos episódios, na forma como as várias cenas estão montadas, permite ao espectador sentir-se a viajar ao lado destes capitães loucos. Da fuga à polícia, à dívida que têm com o obstinado Raposo desde o início da série, ao facto de estarem, cada um deles, a fugir deles próprios.

A geração de capitães e intrépidos desta série é uma amálgama de sonhos, ideais, formas de viver, ser e estar, que se apanham na curva das catástrofes da vida e, no meio da tempestade, tomam más decisões. Envolvidos num esquema maior do que eles que acaba por ser também uma fuga às suas vidas individuais que, a algum momento, descarrilaram.

O elenco que dá vida a cada um destes jovens em “Capitães do Açúcar” não ficou nada atrás das personas a que dão vida. Tiago Sarmento, Diana Sousa Lara, Vicente Wallenstein e Igor Regalla complementam-se e apoiam-se nas suas personagens para criar uma química especial neste bando que resulta num saquinho de doce.

Mas não só os jovens capitães merecem destaque. É que o restante elenco encaixa que nem uma luva, tanto os capitães como um Raposo asqueroso, interpretado por Paulo Calatré, um Jorge com um parafuso a menos, tão bem entregue por José Mata, e até as inspectoras Isabel e Júlia nas mãos de Ana Padrão e Jani Zhao, respectivamente.

Talvez lhe falte alguma profundidade, talvez falte ficar a conhecer um pouco mais da história de vida destes intrépidos, dos seus sonhos, das duas conquistas, das suas falhas. Ou até mesmo ficar a saber mais sobre os vilões, sobre esta droga que consome e conquista o submundo do açúcar. Mas, talvez, faça falta uma nova temporada que permita acrescentar tudo isto e tornar “Capitães do Açúcar” mais completa.

As músicas que vão acompanhando cada um dos episódios funcionam como uma cereja no topo do bolo. Uma banda sonora bem escolhida, a dedo, envolvente e que, à sua maneira, compactua com a aura de alucinação que a série provoca no espectador.

É necessário ver que, em Portugal, não é comum ver projectos desta origem ganhar palco. Como é que uma série sobre drogas pode ser uma série sobre tudo menos drogas?

É que “Capitães do Açúcar” entrega também a luta de uma geração que rema constantemente contra uma maré imensa de intempéries. É uma geração que, no limite, recorre ao crime para tentar encontrar uma solução para a sua felicidade. E uma substância que era suposto fazê-los felizes, de repente, torna-se um conjunto de decisões más que levam os protagonistas por um caminho longe, bem longe dos seus sonhos.

Como é que, depois disto, voltam à realidade? Como é que esta geração é suposto sobreviver? São as questões que esta “Breaking Bad” à portuguesa, de certa forma, coloca. Pelo meio, tem direito a cenas totalmente alucinantes e um ritmo digno de uma série regada a sacarose.