“Irreversível” junta o suspense de um crime à fragilidade humana

Será que "o amor justifica tudo"? O mote para "Irreversível" está lançado, mas a complexidade humana parece querer interpelar o absoluto com uma dose de realismo.

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CARACOL STUDIOS

Uma morte brutal, uma investigação e uma miríade de histórias e emoções entrelaçadas como teia de aranha. “Irreversível” é o mais recente projecto de Bruno Gascon que estreia hoje na RTP.

Composto por seis episódios, este thriller local que tem como ponto de partida a morte de uma jovem, Luísa, irá desbravar caminho por questões universais, como a saúde mental, as adopções ilegais, o bullying, a homofobia, entre outros.  «Todos estes temas (…) fazem parte da série de forma orgânica porque fazem parte das personagens», revela Bruno Gascon, criador, argumentista e realizador de “Irreversível”, em declarações ao TV Contraluz.  

A insersão destas actuais e universais temáticas na produção só é possível porque são reflexo de escolhas de todas as personagens que existem, sendo que o próprio admite que ser realista foi sempre a principal preocupação que teve. «(…) Ninguém é verdadeiramente bom ou mau», sublinha o argumentista.

Júlia ou Pedro ou Luísa ou Rita

Durante os seis episódios de “Irreversível” , o espectador vai sendo convidado a conhecer as demais personagens que compõem a trama. Júlia Mendes, protagonizada por Margarida Vila-Nova, é psicóloga. No seu passado, conta com um evento traumático que lhe mudou a vida e com que terá de se confrontar durante a resolução desta morte.

 «Tive o apoio de duas psicólogas e de um pedopsiquiatra», revela a actriz acerca da preoupação em construir as várias dimensões de Júlia. Da forma de tratar, agir, até à forma como transiciona de profissional de saúde para o ser humano por detrás disso, já que Júlia «está a atravessar um período de luto na sua vida», tudo foram pormenores relevantes para dar vida a esta personagem.

O inspector que é destacado para investigar a morte de Luísa é Pedro Sousa. Dedicado e diligente, Pedro é imediato a aceitar envolver-se na situação. «A complexidade emocional da personagem atraiu-me de imediato», sugere Rafael Morais, que irá dar vida a este inspector. O actor, que descreve este Pedro Sousa como «pragmático, muito racional e duro à superfície, mas extremamente frágil, solitário e fracturado no interior», concede ter sido precisamente esta dualidade que lhe despertou o interesse.  

Para além da sua aparente dedicação ao trabalho e diligência para resolver o caso, parece que Pedro irá ver nesta investigação uma oportunidade de se aproximar de Júlia, com quem já partilhou um passado. Rafael Morais é incisivo na consequência desta reaproximação, denotando a sua convicção de que «os sentimentos não resolvidos entre os dois vão-se reflectir durante a investigação».

Ao realismo que Bruno Gascon admite ter tido preocupação em pintar em “Irreversivel” juntam-se naturalmente personagens que, à aparência, nada terão a ver com os protagonistas que remam o barco.  

É o caso de Rita, protagonizada por Helena Caldeira, que é na sua essência uma mãe que perdeu a filha para o sistema e que luta com um passado sombrio. «A história da Rita é contada no espaço temporal presente, mas podia ser há 10 anos», indica a actriz, acrescentando ainda que a personagem cuja pele decidiu envergar está no processo de «recuperar de uma adição».  

A viver uma «história paralela na mesma cidade» que as restantes personagens, Rita tem uma história importante para contar que aparentemente não tem qualquer relação directa com a morte de Luísa. «Houve uma pesquisa intensa sobre adição às drogas e processos de recuperação e também sobre jovens mães, perdas de filhos», acrescenta Helena Caldeira.

Irreversível” a prémio e expectativa

Pelas várias personagens que irão ser exploradas ao longo dos seis episódios de “Irreversível”, a produção liderada por Bruno Gascon parece ter ganho alguma tracção ainda antes da sua estreia, já que foi seleccionada para o MIPDRAMA e apontada pela MIPTV como uma das 10 novas séries dramáticas mais aguardadas do ano.

«A selecção para o MIPDRAMA e a distinção da MIPTV foram uma óptima notícia», refere Gascon com entusiasmo, já que “Irreversível” foi parte de um conjunto de séries que reunia projectos de todo o mundo. Apesar de não acrescentar grande detalhe à sugestão, o criador revela que tem «algumas boas novidades» para partilhar sobre a internacionalização da produção, desvendando ainda que entrou numa parceria com a distribuidora e produtora “The Yellow Affair” para o efeito.

“Irreversível”, que estreia hoje na RTP, não tem previsão para mais uma temporada mas Gascon revela já ter surgido interesse internacional em dar continuidade à história, acrescentando ainda que lhe «agrada a ideia de poder revisitar estas personagens».