Gago Coutinho e Sacadura Cabral são nomes sonantes em Portugal. E não, não são apenas nomes de ruas e avenidas por esse país fora. São sim duas figuras históricas que alcançaram o que nunca ninguém tinha conseguido concretizar até então. Os seus feitos são agora retratados na série “A Travessia”, em estreia hoje, na RTP.
Da autoria e realização de Fernando Vendrell, que assina também a série histórica “3 Mulheres”, esta aposta há muito um sonho do criador chega aos ecrãs dos portugueses tanto para avivar a memória como para dar a conhecer o que muitos poderão desconhecer do passado nacional.
«Num momento particular da História, a ciência, o arrojo e a ousadia levaram-nos a cometer um gesto que mudou a forma como a Humanidade vê o mundo», afirma Fernando Vendrell na apresentação da série, que decorreu no Museu da Marinha, em Lisboa.
Neste local, é possível ver a aeronave que de facto transportou Gago Countinho e Sacadura Cabral na primeira ligação aérea do Atlântico Sul, em 1922. Para os desconhecedores deste particular capítulo, deixamos assim já o spoiler de que a viagem é bem-sucedida e Portugal entra uma vez mais para a lista de barreiras quebradas em alturas que ninguém achava ser possível quebrá-las.
A travessia histórica e heróica de um par de portugueses
Miguel Damião e Gonçalo Waddington são as caras de “A Travessia”, dando vida ao genial Gago Coutinho e ao inconformado Sacadura Cabral, respectivamente, ao longo de seis episódios, a serem transmitidos semanalmente, pelas 21h. Para interpretarem estas personagens, os actores tiveram acesso a um conjunto de material sobre a época e os intervenientes. No caso de Miguel Damião, este conta ao TV Contraluz que pôde ler o caderno de Gago Coutinho onde apontava os cálculos matemáticos, a par de várias obras escritas sobre a sua vida.
«Há sempre uma responsabilidade acrescida quando fazemos de alguém que existiu. O Almirante Gago Countinho é um génio por todos os aparelhos da aviação moderna que inventou. Além de a travessia que fizeram ser um feito heróico», diz o actor.
Igualmente reais foram os jornalistas Thomaz Colaço (Tomás Costa) e Norberto Lopes, em lados opostos do espectro político da altura, assim como da esfera social. Um monárquico e sensacionalista, outro republicano e sério, mas ambos a bordo de uma aventura que ainda hoje marcas as páginas dos livros de História.
«Estas duas personagens, em conjunto com mais alguns jornalistas que não estão retratados, acompanharam toda a travessia. Aquilo que eles escreveram acaba por mostrar o que era o pensamento jornalístico, político e social de cada um deles. Há um aproveitar desses dois pontos de vista para fazer um retrato da época», salienta Vicente Wallenstein, o Norberto Lopes da série.
No meio de ambos, e a trazer alguma leveza cómica à narrativa, está a personagem de Júlia Palha, Tibita Andrade. Esta intriga amorosa, a par do tempo passado no barco que acompanha a viagem aérea até ao Brasil, acabam por fazer do par de jornalistas amigos de armas que viveram e relataram História.
“A Travessia” é assim, mais do que um produto de entretenimento, um pedaço de ensinamento do marco deixado por Portugal na aeronáutica mundial. Os seis episódios podem ser vistos todas as segundas-feiras na RTP ou na RTP Play.