Daniela Ruah sobre “O Grito”: «Se a nossa série servir para informar, para mim é uma VITÓRIA»

Após a estreia na HBO Max, a série portuguesa chega agora à RTP.

  • Post author:Beatriz Caetano
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Daniela Ruah em "O Grito" | VOLF ENTERTAINMENT

A partir de 8 de Dezembro, a RTP1 e a RTP Play apresentam “O Grito”, uma série realizada por Leonel Vieira que se propõe a mergulhar no lado invisível do sofrimento humano, especialmente quando este se manifesta em quem parece ser inabalável. Com oito episódios, esta co-produção RTP, HBO Max e Volf Entertainment, conta com um elenco de luxo: Daniela Ruah, Sara Matos, Pedro Laginha, Gonçalo Almeida, Nuno Nolasco, Natália Luiza, Roberto Bomtempo, Joaquim Horta, Ricardo Viegas, Madalena Aragão, António Van Zeller e Mar Bandeira.

No centro desta história está Vitória Neves (Daniela Ruah), uma professora dedicada e de personalidade aparentemente firme, que canaliza toda a sua energia para resolver os problemas dos alunos e dos colegas. No entanto, essa mesma dedicação constante leva-a a sacrificar a sua vida pessoal e o frágil equilíbrio familiar. O seu filho adolescente, Pedro (Gonçalo Almeida), sente de forma mais intensa a ausência emocional da mãe, enquanto Salvador (Pedro Laginha), o marido, se mostra aprisionado pelas rotinas, pelo cansaço e por uma apatia que corrói silenciosamente a relação.

A tragédia instala-se de forma abrupta: Vitória, a mulher forte que todos admiravam, põe termo à vida. Este acontecimento obriga a irmã, Sofia (Sara Matos), que vive em Londres, a regressar a Portugal, determinada a descobrir as razões por detrás deste gesto inesperado. O percurso de Sofia transforma-se numa investigação que expõe as pressões, os segredos e os últimos passos de Vitória, reconstruindo o puzzle emocional que antecedeu a tragédia.

A construção da mulher que se desmorona em silêncio

Em entrevista ao TV Contraluz, Daniela Ruah descreve o processo de dar vida a Vitória como um mergulho profundo numa luta interna desgastante. «Acho que é precisamente a energia que desgasta em parecer que está bem, quando por dentro a alma desmorona, que acaba com a sua força para continuar a lutar e a viver. Adicionando a isso batalha no trabalho e batalha em casa, não tendo no Salvador um parceiro que a apoie. Pelo contrário, o abuso de álcool e aquilo que descobrimos no último episódio – algo imperdoável -, é para Vitória uma sentença.»

A relação entre Vitória e Salvador é uma peça central do enredo. Num casamento incapaz de sustentar quem mais precisava de apoio, fica à superfície a distância física e emocional que, lentamente, leva à erosão do casal. A protagonista de “O Grito” revela que Leonel Vieira ajudou a construir esta relação desconexa ao criar distância na marcação das posições dos actores em cada cena. «Nunca se vê contacto fisico, mesmo quando há um flirt na cozinha. Quando estamos sentados na sala estamos separados, quando estamos no museu não nos encontramos lado a lado…»

A ligação entre Vitória e Pedro é também carregada de tensão, desentendimentos e um afastamento silencioso. Sobre trabalhar esta relação, Daniela Ruah afirma: «Senti muita química com o actor Gonçalo Almeida, que interpretou o meu filho Pedro, e isso facilitou a nossa dinâmica em plateau. Gostei muito de trabalhar com ele, é um actor muito presente e aberto ao que acontece no momento. Também sou mãe, por isso, foi fácil imaginar o que sentiria se houvesse distância entre mim e os meus filhos, se a comunicação de alguma forma falhasse ou se andassem com más companhias.»

Uma série que ecoa problemas reais

O enredo de “O Grito” toca em temas particularmente relevantes no contexto português: burnout dos professores, saúde mental, solidão e suicídio. Questionada sobre o impacto que a série pode ter na sociedade, Daniela Ruah partilha um desejo de mudança: «Espero que a série traga diálogo e que seja um ponto de partida para a comunicação entre pais e filhos, professores e alunos e, idealmente, entre as pessoas influentes na protecção de todos. Informação é poder, e se a nossa série servir para informar, para mim é uma VITÓRIA.»

“O Grito” apresenta-se, assim, como mais do que uma obra de ficção: é um alerta. Uma reflexão sobre aqueles que se desdobram para ajudar os outros enquanto carregam sozinhos um peso que se torna insustentável. A partir de 8 de Dezembro, às 22h30, a RTP1 e a RTP Play dão voz a este grito silencioso – que é, afinal, o de muitos que vivem na sombra da sua própria dor.