“Emília” vence entre o feel good e os encontrões de realidade

Esta história reflectirá, com toda a certeza, o presente e o passado de tantos que já a viram ou que poderão vir a ver. A narrativa oferece ao espectador um deep dive no comportamento e pensamento humano, com o medo do falhanço a representar o grande motor da história.

  • Post author:Beatriz Caetano
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MARIA & MAYER

A mais recente estreia ficcional televisiva da RTP deu-se em dose dupla com a chegada ao pequeno ecrã das séries “Emília” e “Capitães do Açúcar”. Emitidas no linear em horário “para adultos” – o que significa pouco depois das 22h –, ambas as apostas prometiam trazer uma abordagem jovem, fresca e renovada aos problemas que as novas gerações enfrentam nos dias actuais.

Aqui vamos falar de “Emília”, uma história que, com toda a certeza, reflectirá o presente e o passado de tantos que já a viram ou que poderão vir a ver. Até porque quem prefere ver tudo de seguida, num good old binge-watch, poderá fazê-lo através da RTP Play, sem ter de esperar mais semanas para saber como acaba.

E se “Emília” prometia, a conclusão é que entrega. A narrativa oferece ao espectador um deep dive no comportamento e pensamento humanos, com o medo do falhanço a representar o grande motor da história. Quantos de nós, por medo de não alcançar o que sonhávamos, optámos simplesmente por nem tentar? Quantos de nós se conformam com o que nos rodeia, porque o mundo nunca vai ser justo? E quantos de nós se deixam influenciar pela panóplia de imagens que as redes sociais todos os dias nos fazem chegar?

A resposta a estas perguntas é óbvia e talvez o final de “Emília” também, mas o percurso que as personagens fazem até lá chegar nem sempre. Desde o início que torcemos para que esta Emília consiga aquilo que durante tanto tempo esteve fechado algures no seu âmago, visto que o seu passado e a sua situação emocional e financeira não lhe permitiam buscar. A sua coragem acaba por ter frutos, levando a uma espécie de “felizes para sempre” dos tempos actuais em que, embora nem tudo esteja certo, o que deveria estar está. Chegamos ao fim com o coração mais aconchegado, porque, no fundo, independentemente de quão más as coisas pareçam estar, há sempre uma saída.

São apenas seis episódios que nos dão um princípio, meio e fim de Emília e Rosa, principalmente, numa miríade de tons pastel que nos dá uma certa sensação de serenidade. A dupla de protagonistas, que tinha tudo para desembocar nas rivais da companhia de dança, acaba por se apoiar nas inseguranças, falhas e medos de cada uma, trazendo ao de cima o que têm de melhor. “Emília” é, assim, uma série feel good com pequenos grandes encontrões de realidade disfarçados de tiradas cómicas e um espelho mais ou menos distorcido das vidas do seu público.