Uma centena de episódios de “The Good Doctor” que vão muito além da neurodiversidade

Freddie Highmore, David Shore e Liz Friedman sentam-se à conversa numa entrevista onde revelam algumas considerações sobre o impacto de Shaun Murphy na representatividade do autismo no pequeno ecrã, bem como algumas reflexões após 100 episódios.

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Elenco de "The Good Doctor" na celebração do episódio 100 | ABC

São 100 os episódios já transmitidos em Portugal da série “The Good Doctor” neste momento, que está com a sua 6ª temporada a ser transmitida semanalmente no canal AXN em Portugal. Para celebrar este marco incrível do ceptagésimo episódio, os criadores David Shore e Liz Friedman juntamente com o actor que dá vida ao Dr.Shawn Murphy – Freddie Highmore -, sentaram-se à conversa com o site norte-americano The Hollywood Reporter (THR). Tiveram oportunidade de explorar um pouco sobre a temática da série “The Good Doctor”, a neurodiversidade e algumas reflexões sobre os restantes episódios da 6ª temporada.

O impacto de Shaun Murphy na representatividade

O trabalho de David Shore e Liz Friendman é bem maior do que garantir apenas que o produto final é uma boa série médica. O foco de “The Good Doctor” é a história de vida do Dr. Shaun Murphy – um médico cirurgião jovem e autista, e todas as complexidades que a personagem ultrapassa, acrescido ao facto de pertencer ao espectro do autismo. Freddie Highmore tem a responsabilidade de traduzir este guião numa personagem especial e emblemática e é dessa perspectiva que o actor parte para trazer Murphy ao pequeno ecrã.

Nesta conversa com o THR, Highmore confessa que sempre encarou a representação do autismo como sendo a maior dificuldade da série, especialmente porque sabiam que «estavam a contar a história individual de Shaun» e que esta história nunca representaria toda a gente no espectro, mas ao mesmo tempo tinha a esperança de que «[Shaun] fosse uma personagem com impacto e uma representação poderosa e impactante na comunidade». Ao episódio 100, o actor reflecte que se nesta viagem impactaram a vida de alguém, quer dentro do espectro, quer em termos de percepção dos estereótipos associados ao autismo, então é precisamente disso que se orgulha.

É também nesta linha de pensamento que David Shore e Liz Friedman se encaixam. Talvez pela simbiose que os une tenha “The Good Doctor” tanto sucesso, uma vez que tanto Friedman como Shore falam no impacto que a representatividade pode ter na televisão e em como pode ajudar a abrir horizontes. «É isto que é o mundo, e é espectacular termos a oportunidade de representá-lo», diz Friedman.

Na mesma conversa, e no seguimento da abordagem ao impacto que a série tem tido, os comentários são de Shore, que confessa que de vez em quando recebem cartas e algum feedback dos fãs que apreciam e percebem que criaram verdadeiramente algo que marca os espectadores. Na realidade, atribui isso ao facto de estarem a contar uma história que não tinha representação na televisão e considera que isso faz com que os fãs da série se tenham apegado tanto a Shaun Murphy.

Freddie Highmore no papel de Shaun Murphy em “The Good Doctor” | ABC

Episódio 100. E agora?

Nessa terra distante que é Hollywood, costuma-se dizer que chegar ao episódio 100 é um marco. Para “The Good Doctor” isso significa terem lançado uma 6ª temporada, que ainda não terminou. Freddie Highmore confessa ao THR que se sente sortudo e afortunado, e que a conexão que as pessoas têm com a série e com a personagem que interpreta é a causa dessa sensação. «Ultrapassou definitivamente as minhas expectativas», afirma o actor.

Shore e Friedman confirmam a alegria em fazer parte desta aventura, juntamente com o actor que dá vida a Shaun Murphy. Não se inibem de lhe dar todos os elogios possíveis, ao seu trabalho e ao seu profissionalismo, enquanto aproveitam para atribuir o sucesso da série também à equipa de argumentistas e elenco que têm passado pela série desde a sua concepção. O episódio 100 é, para David Shore, o momento de olhar para trás e sentir orgulho no trabalho de toda a gente.

Mas “The Good Doctor” não termina no centésimo episódio e é neste momento da entrevista que Highmore se permite a falar um pouco sobre o que esperar do resto da actual temporada. De Shaun a receber a sua promoção, ter a oportunidade de ser chefe, este é o início de uma nova vida. Agora que Shaun e Lea estão casados, admite que a temporada irá ter algum foco na relação entre Shaun e Dr. Glassman – que perdeu o lugar de “pessoa mais importante na vida de Shaun” para Lea. Friedman acrescenta ainda que grande parte do drama se vai focar em Shaun, Lim e Glassman e em como estas personagens irão lidar com as consequências da cirurgia que Shaun fez a Lim no primeiro episódio da temporada. Todas as complicações emocionais vão ser trabalhadas ao longo da temporada, que certamente culminarão num final tenso e climático como “The Good Doctor” já nos habituou.

“The Good Doctor” tem sido, acima de tudo, uma série que se tem tornado num marco representativo da neurodiversidade, mas também um exemplo a seguir no que toca ao desenvolver de emoções complexas de todas as personagens envolvidas na série.

É neste registo que David Shore finaliza com um remate certeiro à razão pela qual a série continua a criar envolvimento: «É sempre interessante ver Shaun a lidar de forma única com as complicações emocionais em que tropeça», confessa. Sem terem bem a certeza de como a história de Shaun Murphy vai acabar, todos acabam por se desviar um pouco à questão. «Enquanto não ficarmos sem [objectivos e ideias para desafiar Shaun], iremos, se tudo correr bem, continuar», confirma Shore.

A 6ª temporada de “The Good Doctor” está, de momento, a ser transmitida no canal AXN.