Marco Paulo é um nome que certamente divide opiniões. Tal como qualquer outra grande estrela, há quem ame e quem odeie. Da mesma forma, uma série que acompanha o seu percurso de vida e carreira terá o mesmo factor divisório entre o público. Mas goste-se mais ou menos da história contada, seja pelo tema que aborda ou não, a verdade é que estamos perante uma produção que tem o merecido mérito, independentemente da figura que lhe toma o foco.
Produzida pela Coral Europa, “Marco Paulo” chegou à SIC no primeiro dia de 2023 como uma mini-série que deixava antever drama, emoção e comédia. Tudo isso entregou e muito mais: a promessa de que a ficção nacional televisiva tem um caminho sorridente à sua frente ao apostar em formatos que conseguem agarrar o espectador, mesmo que o tema possa não ser do agrado de todos à partida.
Para tal resultado contribuiu não só o guião de Vera Sacramento, Sara Rodi e Susana Tavares, mas também a brilhante realização de Manuel Pureza, já conhecido do público pelos seus recentes trabalhos “Até Que a Vida Nos Separe” e “Pôr do Sol”. Dividido em três episódios, disponíveis na OPTO, este retrato do cantor começa por pintar a imagem de uma parte da sua vida que muitos poderão desconhecer, avançando por momentos que marcaram o seu percurso na música, enquanto outros ficam pelo caminho e uma dúvida permanece óbvia no ar.
Com um tempo de rodagem disponível de apenas 12 dias, “Marco Paulo” consegue fazer muito pela transposição semi-ficcionada da vida desta personalidade que começou com nada e chegou ao expoente máximo do estrelato em Portugal no século XX. Imagine-se, então, se a equipa de realização e o elenco tivessem tido à sua disposição um mês de filmagens ou até dois. Poderíamos estar perante algo ainda maior. No entanto, como o “tuga” tem uma predisposição natural para o “desenrascanço”, os grandes feitos surgem na mesma.
Neste ponto é fulcral a entrega tanto de Diogo Martins como de Fernando Luís, que encarnam Marco Paulo de corpo e alma na série da SIC, com um tempo recorde de preparação para o papel. O receio que sentiram ao receberem o convite para interpretar esta personagem é compreensível e é também de concordar que conseguiram «captar a essência de uma estrela» nos três curtos episódios. Fazer uma biopic post mortem de alguém já acarreta responsabilidade, quanto mais quando a pessoa em questão ainda está viva.
Uma viagem inesperada do passado ao presente de Marco Paulo
Do passado ao presente vai-se viajando pela vida de Marco Paulo e descobrindo episódios únicos, como o tiro que levou na cabeça durante a sua passagem pela Guerra Colonial, o insólito acaso dos famosos caracóis do seu cabelo ou a fã que roubou a água do seu banho. O espectador move-se pelas décadas, acompanhado de mudanças de elenco surpreendentes e de guarda-roupas e cenários aos quais não se pode apontar um dedo. Os tais drama, emoção e comédia fazem-se sentir com tensão, lágrima e gargalhada ou sorriso, enquanto a vontade de ver o que se segue se alimenta do visual cheio de vida e «pinta», tal como era desejo do realizador.
No fundo, “Marco Paulo” da SIC marca aquela que é uma das primeiras biografias serializadas de grandes figuras portuguesas e mostra como com pouco se faz muito, embora o desejo seja que se dedique mais ao que de bom pode ser produzido em Portugal. “Ninguém poderá mudar o mundo”, mas há que tentar.