Eles são “Cavalos de Corrida”: uma vida de assaltantes nos anos 80 de rédeas soltas na televisão

“Cavalos de Corrida” traz Bonnie e Clyde lusitanos à televisão a meio caminho entre o noir e os filmes de acção.

  • Post author:Beatriz Caetano
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Os míticos anos 80. Olinda e Domingos. Um grupo de assaltantes. Chega hoje à RTP e RTP Play mais uma aposta da ficção nacional. Trata-se de “Cavalos de Corrida”, uma série que se insere numa linha diferente da estratégia do canal público português e que vai trazer ao pequeno ecrã, durante as próximas quartas-feiras pelas 21h, uma história com acção, alguma comédia e o lado humano de todos nós.

Quem nunca pensou como seria assaltar uma joalharia ou até um banco? É mais ou menos isso que “Cavalos de Corrida” propõe sob o leme do casal de protagonistas Olinda e Domingos, interpretados por Teresa Tavares e Tomás Alves, respectivamente. Num compromisso entre o género noir e o de acção, esta série vai acompanhar a jornada de duas pessoas cujo maior sonho é comprarem uma casa – não muito diferente dos tempos que se vivem hoje – e levar o espectador a pensar que qualquer um de nós poderia estar numa situação semelhante se as circunstâncias e as oportunidades se alinhassem.

Criada e realizada por Marco Leão e André Santos, “Cavalos de Corrida” surge como um reflexo do presente e uma oportunidade de reflexão sobre o futuro. «Fomos construindo um universo para estas personagens que tinha muito a ver com aquilo que sentíamos. Todas elas são um pouco de nós, dos nossos amigos e das suas lutas diárias», explica a dupla, em entrevista ao TV Contraluz.

Com uma mão cheia de poucos recursos disponíveis, Marco Leão e André Santos propuseram-se a trazer à televisão uma viagem pelo Portugal dos anos 80, numa altura em que o desejo era a liberdade e a alavanca o sonho. O conjunto de protagonistas debate-se com a realidade que assola o país no período antes da entrada na CEE: não há dinheiro, a pobreza é muita e a taxa de criminalidade elevada. É neste contexto que Olinda e Domingos começam por fazer pequenos golpes para alimentar a possibilidade de viverem a vida que sempre quiseram. Mas, claro, nem tudo vai correr como esperado.

«Percebi logo que era um risco quando li os guiões e falei com os realizadores. É uma coisa fora da caixa e diferente do que temos feito aqui em Portugal. Isso deu ainda mais vontade de fazer [a série]», afirma Tomás Alves, acrescentando que as mentes por trás de “Cavalos de Corrida” «não desistiram de dar humanidade às personagens».

Parte dessa humanidade é oferecida por todos os erros que cometem e pelo confronto com as emoções. A personificação clara disso é a relação passional e explosiva dos protagonistas que, no final de contas, sabem que se têm um ao outro. Teresa Tavares e Tomás Alves demonstram no ecrã uma química que leva o público a acreditar piamente na relação destes dois bandidos e tudo se deve à confiança no trabalho de ambos fora da mise en scène.

Curiosamente, diz-nos a actriz principal, já tinham dado vida a pares românticos noutros projectos, mas sempre em situações pouco convencionais. «É uma pessoa com quem estou muito segura a trabalhar e é uma dinâmica que fomos descobrindo. É uma questão de entrega», afirma Teresa Tavares.

Ao lado desta dupla surgem Maria João Pinho e João Vicente, um casal de beatos que se vai ver envolvido no mundo do crime enquanto também eles procuram alcançar o que mais desejam, cada um à sua maneira. Augusto gosta da noite e quer libertar-se das amarras que o prendem à rotina mundana que vive. Contudo, o amor maior por Lúcia e o seu forte sentido moral ajudam-no a manter-se terra a terra, ao contrário de Olinda e Domingos que se alimentam de todas estas coisas para fazer implodir o seu universo. Já Lúcia é uma católica profunda que não põe um pé fora da estrada e de repente está de arma na mão, questionando tudo aquilo em que sempre acreditou.

Da quadrilha às personagens que a acompanham

Mas nem só destes quatro elementos se faz “Cavalos de Corrida”. Pelo caminho vão surgindo outras caras e nomes como Dora, interpretada por Filipa Areosa, que trabalha no mesmo bar que Augusto e tem o sonho de ser cantora. Inês Sá Frias dá vida a Ivone, a melhor amiga “da terrinha” de Dora, que entra na história como uma espécie de voz da razão e para a puxar para a realidade. Já Nuno Casanovas é Raul, um fotógrafo misterioso que tem a ambição de fazer projectos maiores e, a dada altura, envolve-se com uma das personagens do grupo central.

Há mais corrida para estes cavalos numa 2ª temporada e spin-off

Poucas são as séries em Portugal que contam com mais do que uma temporada e menos ainda aquelas que tiveram direito a um spin-off. “Pôr do Sol” é o exemplo que vem à mente para ambos os casos e “Cavalos de Corrida” também quer fazer parte da lista. Pelo menos esse é o plano de André Santos e Marco Leão que já têm ideias para uma segunda temporada e até talvez uma terceira. Mas o spin-off é algo que está presente desde o início e tudo se deve às personagens Orlando e Glória, interpretados por Miguel Guilherme e Soraia Chaves, respectivamente.

Um é uma espécie de organizador, quem dá as cartas. A outra uma assaltante experiente e sofisticada. Em conjunto vão levar a quadrilha a fazer golpes maiores e mudar a trama até chegarem ao grande assalto. Para os realizadores, estas personagens merecem o foco completo numa produção dedicada só às suas façanhas. «Desde o início que achámos que as personagens podiam dar um spin-off. É um universo que temos vontade de explorar», realça André Santos.

Há três anos no forno, este bolo que dá pelo nome “Cavalos de Corrida” está pronto a ser provado e atestado pelo público português. “Agora, agora, agora, agora, tu és um cavalo de corrida” poderá fazer soar campainhas na memória de alguns e foi precisamente essa a ideia dos criadores ao escolher o nome da série. É também o título da música dos UHF lançada em 1980 que faz a analogia com o quotidiano penoso da classe operária na altura. Da mesma forma, Olinda, Domingos, Lúcia, Augusto e todos os outros que cruzam o seu caminho são cavalos de corrida, pessoas no limite daquilo que conseguem aguentar, e que só querem passar a meta.

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Tomás Alves e João Vicente | TV CONTRALUZ
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Teresa Tavares | PEDRO PINA/RTP
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O actor Miguel Guilherme e os criadores e realizadores da série André Santos e Marco Leão (da esquerda para a direita) | TV CONTRALUZ
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Tomás Alves | TV CONTRALUZ
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Soraia Chaves | TV CONTRALUZ
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Maria João Pinho | PEDRO PINA/RTP
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Inês Sá Frias | PEDRO PINA/RTP
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Elenco e equipa de produção de ''Cavalos de Corrida'' | PEDRO PINA/RTP
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