“Projeto Delta” revela-se «a estrela que dirige os passos» do audiovisual na ficção científica

Um thriller de fantasia e ficção científica inspirado na obra de Egas Moniz, que se destaca positivamente pela (des)construção de conceitos complexos durante oito episódios regados em mistério e descoberta.

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OPTO SIC

Mistérios, sonhos e histórias: É dessa matéria que é feita “Projeto Delta”, uma das mais recentes apostas da plataforma de streaming OPTO.

Bruna Quintas é a actriz que dá vida a Violeta, a protagonista que se vê envolta numa busca por respostas incessantes após a tentativa de suicídio do seu pai. Com habilidades psíquicas fora do normal, esta personagem leva-se a si e aos seus amigos por uma viagem alucinante no mundo dos sonhos.

E, de facto, como nunca antes vista em terras lusas.

Se “Projeto Delta” não é a primeira grande série focada no mundo da ficção científica de criação portuguesa, decerto merece o prémio de mérito de ser, até agora, a melhor no seu género.

O foco é nitidamente o mistério que envolve Violeta e os seus amigos Bruno, Helena e Daniel. Uma construção pelo mundo dos sonhos e do subconsciente bem conseguida, cujo resultado se deve atribuir em grande parte ao trabalho de Tiago Pimentel, António Miguel Pereira e Gui Santos – os criadores desta produção recém-estreada.

“Projeto Delta” vence em não cair nos clichés do romance, nem se perder no meio de conceitos tão complexos suavemente introduzidos durante o desenrolar de oito episódios. É certo que nem todos foram explorados na sua extensão – ou até onde a extensão dessa exploração é permitida –, mas a forma como os conceitos de dreamstate, dreamwalking e connected consciousness são trabalhados nesta produção estão certamente interessantes, envolventes e geram o “bichinho” da vontade de querer ver mais e compreender melhor esta exploração científica.

Pelo meio são introduzidas personagens que se apresentam como âncoras das personagens principais, ou antagonistas que tanto fazem falta num thriller do género. José Raposo e Mariana Monteiro vestem o fato destes antagonistas e são os principais criadores de tensão e agitação dos jovens intrépidos que procuram desenvolver o mistério que levou o pai de Violeta ao suicídio, e tão bem que o fazem. A intensidade com que se entregam a estes papéis é suficiente para criar no espectador a sensação de urgência em tirá-los de cena, o que só pode significar que o trabalho destes dois actores foi conseguido.

Bruna Quintas, Igor Regalla, Ana Lopes e David Esteves são os quatro jovens nesta jornada alucinante pelos sonhos, e cada um deles soube construir a sua personagem com as suas necessárias características para que, cada um à sua maneira, seja uma fonte de identificação para o espectador e seja uma força individual na força do grupo. Para além do mistério da fantasia, são entregues características das personagens fulcrais para que o espectador possa criar empatia pelas diferentes personagens. De ansiedade, a depressão, a responsabilidades familiares, até a ideia de assédio – todos estes conceitos de certa forma explorados e, ao mesmo tempo, não “mastigados” de forma a permitir que o foco principal desta série se mantenha.

A banda sonora de “Projeto Delta”, que ficou ao cuidado de The Legendary Tiger Man, encaixa-se na perfeição numa produção deste género. Sem se sobrepor ao suspense ou às emoções, serviu perfeitamente como um complemento que ajuda o espectador a manter-se fixado nos desenvolvimentos de cada um dos episódios.

Existiram, de certa forma, dois pontos menos positivos em “Projeto Delta”.

Um deles serão os efeitos especiais. Esperar-se-ia de uma série de ficção científica que o CGI fosse mais aprimorado do que aquilo que foi. Talvez tenha sido uma questão de custos, mas o certo é que não foram um grande foco, nem um grande impulsionador da história desta série. Serviram o seu propósito e pouco mais, sendo que o argumento só por si solidifica muito melhor o conceito do que os efeitos-especiais que o acompanham.

O outro ponto menos positivo é o facto de “Projeto Delta” não ter tido a explosão televisiva que merecia. Fica a desejar uma promoção mais afincada desta produção que em tudo tinha para criar um efeito boom junto da audiência, tratando-se de um género ficcional pouco ou nada explorado em Portugal.

Resta pegar no início desta análise e dizer que, se alguns conceitos científicos foram pouco explorados nesta 1ª temporada, se espera que uma nova temporada de “Projeto Delta” seja o complemento necessário para colmatar esta imersão pelo mundo dos sonhos e viagens no subconsciente.

“Projeto Delta” está disponível na plataforma de streaming OPTO.