Sabias que Cleópatra foi a última faraó do Egipto? E que casou com um dos irmãos? Sabias também que, na altura do seu reinado, o Egipto era composto por três grandes povos, incluindo judeus? Estes são apenas alguns dos factos colocados em destaque na mais recente docuseries da Netflix: “Queen Cleopatra”.
São apenas quatro episódios de uma produção que combina documentário com drama. Quer isto dizer que o conhecimento partilhado pelos professores e historiadores convidados é pintado com a interpretação de um elenco de actores, que ajudam a recriar a vida de Cleópatra. À primeira vista, uma boa ideia. Mas será mesmo?
O elenco tem até alguns nomes sonantes, como Adele James (“Casualty”) e Jada Pinkett Smith (“Gotham” e “Hawthorne”), mas a interpretação parece ficar aquém do que promete a jornada épica de Cleópatra. Além disso, sotaque britânico em personagens egípcias afasta-nos logo do ambiente que se pretende criar.
Mas a pronúncia não é o único motivo que faz com que a escolha dos actores dê que falar. Pelo mundo online (e não só), discute-se a escolha de uma mulher negra para interpretar Cleópatra. Mas essa é quase uma bandeira da docuseries: logo no início de “Queen Cleopatra” ouve-se uma das especialistas afirmar que Cleópatra – a rainha que unificou o Egipto – era negra.
Os argumentos apresentados fazem lembrar a questão da representação de Jesus Cristo, que muitas vezes surge como um homem loiro – o que poderá não fazer muito sentido em termos históricos. Existirá a tendência para tornar estas grandes figuras mais europeias. Mas será este o caso de Cleópatra?
De acordo com a BBC, um advogado egípcio vai levar a Netflix a tribunal precisamente por apresentar Cleópatra como uma mulher negra, sublinhando que “Queen Cleopatra” apaga a identidade do Egipto.
Colocando de lado esta discussão, “Queen Cleopatra” oferece um olhar sucinto (apenas quatro episódios de cerca de 40 minutos) sobre a forma como Cleópatra chegou ao poder, a relação com Roma, as dívidas, o incêndio da Biblioteca de Alexandria, a traição e morte de Júlio César, entre outros momentos históricos.
Ficamos também a perceber melhor de onde vem a aura de sedução que paira sobre Cleópatra sempre que é representada no cinema, por exemplo. Spoiler: o facto de a própria se ver como uma deusa pode ajudar a explicar.
Esse é outro ponto fundamental desta docuseries. Estamos perante uma verdadeira ode à mulher, num sentido mais lato, com Cleópatra a representar o empoderamento feminino. A certa altura de “Queen Cleopatra” ouvimos até alguém comparar a história da sua ascensão e governo a “House of the Dragon“… E quem somos nós para contrariar?
A série está disponível na íntegra na Netflix. Se ficaste curioso, espreita o trailer: