Rabo de Peixe é uma pequena localidade do Arquipélago dos Açores até agora provavelmente desconhecida para muitos. A vila dá nome e palco à segunda série portuguesa da Netflix, que recupera de forma ficcionada a chegada à costa de um carregamento de grandes dimensões de droga. E se na vida real esse acontecimento teve repercussões que ainda hoje são visíveis naquelas gentes, na história inventada por Augusto Fraga não será diferente.
O que acontece quando um grupo de jovens encontra fardos de droga e decide fazer uso deles para dar a volta à vida que levam, em busca de sonhos maiores? É isso que vamos descobrir ao longo dos sete episódios desta produção, que conta como protagonistas com José Condessa, Helena Caldeira, André Leitão e Rodrigo Tomás.
Filmada quase integralmente nos Açores, e também na pequena localidade, a série promete acção, aventura, emoção, lágrimas, mas, acima de tudo, uma «história com uma profundidade muito da natureza humana». Quem o diz é Helena Caldeira, que, em entrevista ao TV Contraluz no evento de estreia, revela que a base de tudo o que vamos ver no pequeno ecrã são as personagens. «São tão ricas, têm tantas camadas, tão reais, tão próximas daquilo que é o ser humano.»
A actriz dará vida a Sílvia, alguém com quem «muitas raparigas se vão identificar». E porquê? «É uma rapariga cheia de sonhos, com muita vontade de sair dali e fazer coisas por ela. Só que é frágil, não tem uma estrutura emocional que lhe permita ir para o desconhecido. Decide esconder essa fragilidade com uma capa da mulher dura que não precisa de ninguém. Nós todas sabemos o que isso é.»
Trabalhar no local onde tudo realmente aconteceu é sempre um bónus para as mentes criativas e torna-se essencial não só para construir as personagens, mas também para que todos os envolvidos “falem” a mesma linguagem. Para entrar a fundo no mundo de Sílvia, Helena Caldeira passou algum tempo com Cláudia, uma rapariga local, que a ajudou a perceber «como é ser feminina, mas ao mesmo tempo não».
Algo semelhante pode dizer José Condessa, Eduardo em “Rabo de Peixe”, um jovem também cheio de sonhos «e com muita dificuldade em concretizá-los». Quando a droga dá à costa, é quase como se o destino quisesse que Eduardo a usasse para contrariar a vida que lhe calhou. O actor conta-nos que passou uma semana e meia na vila ainda antes das gravações para conhecer as pessoas, as rotinas e as tradições, perceber o que é ser um pescador e ir trabalhar para o mar.
«Fez com que pudesse cultivar este Eduardo e ganhar um universo que me permitiu depois não só estar completamente à vontade com a personagem, mas também com as pessoas que passaram a ser quase família que me abriram a porta de casa para ir lá comer e falarmos e partilhar histórias. Isso torna a coisa muito familiar. Permitiu-me construir bem o Eduardo, para não ser só na base do estereótipo do pescador», diz o actor.
Os habitantes que se tornaram família
Da pesquisa inicial, ao bootcamp ou a partilhar refeições e histórias, muito têm a contar aqueles que construíram a série portuguesa da Netflix sobre a sua passagem pelos Açores. O que todos trazem em comum é o afecto pela ilha e pelas pessoas, que se tornaram uma família ao longo dos dois meses de gravação.
Inclusive, os habitantes da vila tiveram a sua quota parte de participação no making of da série, já que envergaram o hoodie das equipas de produção para ajudar e observaram ao redor as cenas em acção, aplaudindo no fim. «Era como se estivéssemos a fazer teatro ao ar livre. Foi uma experiência única», relembra Dinarte de Freitas, que interpreta aquele que inicialmente se apresenta como Zé do Carro, mas que depois passa a ser conhecido como Zé do Frango.
A explicação é simples: os espectadores podem esperar algumas surpresas desta personagem a quem algo acontecerá, mas que ainda não pode ser revelado, claro. «Devo dizer que é uma das personagens mais desafiantes que fiz na minha carreira e foi um voto de confiança da Netflix, do criador Augusto Fraga e da Patrícia Sequeira.»
Com mais ou menos memória do acontecimento real que inspira a série, decorrido em 2001 e que ainda hoje deixa marcas nesta localidade piscatória, o elenco não esconde o estudo que fez para se preparar para esta aventura no streaming. «Na verdade, conheço pessoas que foram directamente afectadas pela situação. Conheço pessoas que perderam irmãos por causa do que aconteceu. Toca-me um bocadinho e acho que toca a todos nós. É uma história que poderia acontecer hoje», afirma Rafael Morais, o Morcela desta história.
Nascido e criado em Rabo de Peixe, o rapaz vai aproveitar-se da situação que o mar lhe trouxe e ajudar os vilões. É uma espécie de antagonista, mas com bons motivos e que faz o que faz por desespero e sobrevivência.
O que se espera da nova série portuguesa Netflix?
«Imprevisibilidade» é a palavra que Afonso Pimentel escolhe sem hesitações. O actor será Ian, um fotógrafo «com uma ligação muito grande aos consumos» que se muda para os Açores e que se vê «embrulhado» na tentativa de «despachar esta droga toda». Também este intérprete tem na memória uma ou outra história real dos factos que inspiram a série, algumas tão surreais «que nem na ficção cabem, porque parecem mentira».
Já «inovadora» é a escolha de Helena Caldeira, que garante um resultado final obtido «com muita honra». Dinarte de Freitas desvenda «muito thriller» e Rafael Morais «uma série que vai entreter». José Condessa salienta que, acima tudo, será «uma grande diferença do que estamos habituados a ver na ficção nacional». Não melhor nem pior, mas sim com uma linguagem nova de câmara e de ritmo.
No fundo, “Rabo de Peixe” lança as redes para uma aposta que se quer de sucesso e que levará Portugal novamente aos quatro cantos do mundo. A estreia está marcada para dia 26 de Maio, na Netflix, e pode ser vista de rajada ou, como se costuma dizer na gíria, em binge watch.