O ano de 2023 vai a meio e a RTP lança agora a sua 9ª série. Dá pelo nome de “Braga” e revela-se difícil de definir. No fundo, trata-se de um drama de crime e mistério – ou policial –, que engloba temáticas tão actuais como a Igreja ou a xenofobia. A personagem principal é António, um jovem padre que regressa à terra que o viu nascer para assumir a paróquia de um bairro pobre. Ao seu lado veremos Carlitos, uma criança cigana que se disponibiliza para ajudar e que lhe revela em confissão algo muito grave. A partir daqui a realidade muda, impulsionada por uma morte que vai colocar tudo em perspectiva.
Gravada integralmente na cidade que lhe dá nome ao longo de dois meses, esta nova aposta rege-se pela inclusão e representatividade. Uma vez que inclui personagens de etnia cigana, o criador Tino Navarro fez questão de ter actores pertencentes à comunidade no elenco. É o caso de António Nunes e Maria Gil, que interpretam Bonifácio e Carmen, um casal cigano, pais de Carlitos (Luís Henrique Matos), Valter (Salvador Gil) e também de Dalila (Beatriz Domingues), uma jovem que sonha com um mundo romântico em contraste com o seu quotidiano pouco lírico.
Em entrevista ao TV Contraluz, Maria Gil salienta que «as personagens ciganas estão extremamente estereotipadas». Contudo, o facto de as gravações terem decorrido num bairro social onde habitam ciganos galegos, uma comunidade específica, e de estes poderem ter feito parte do projecto fez muito pela representatividade que se almeja com “Braga”.
«Tive a ideia de escrever esta história num voo de 10 horas na América. Não tinha que fazer e comecei a inventar coisas», conta Tino Navarro, na apresentação da produção, em Lisboa. O criador revela que tem como missão desenvolver várias séries decorridas em todas as capitais de distrito do país, assim como nas regiões autónomas, como forma de dar a conhecer o país além de Lisboa e do Porto, visto que tudo o resto «é paisagem».
Além disso, acrescenta, decidiu fazer outra coisa com este pontapé de partida no Norte: «tentar incorporar talento local, sejam actores, técnicos, pessoas que colaborem. Dar-lhes oportunidades, já que normalmente estão bastante longe dos centros de decisão e da maior parte das coisas que se fazem.»
Um padre de Braga dividido pela divina trindade
Hélder Afonso dá corpo e alma a António, a figura central desta história. É a sua primeira prestação na ficção enquanto protagonista, mas não se mostra sobrecarregado com o que esse lugar de destaque acarreta. Recentemente chegado à ficção, o actor vem do mundo da moda, tendo percebido que se sentia «criativamente insuficiente» com o seu percurso. Um conjunto de acasos, onde se inclui a distante pandemia, resultou numa mudança de rumo que se revelou algo que sempre amou.
Em “Braga” é António, pároco de tenra idade, com questões, inquietações e um sentido moral que o leva a questionar e batalhar contra o que acredita estar errado, sem medo de falar ou agir. O regresso à cidade revela-se mais turbulento do que antecipado e o despertar de sentimentos que, de acordo com a doutrina, não deveriam existir levam-no por caminhos nunca antes previstos.
Nesses trilhos surgem Lena (Carolina Frias) e Dalila, inimigas sem o saberem, ambas com sonhos e ambições e uma paixão improvável em comum que promete desfragmentar quem foram até então. As actrizes revelam uma imersão completa nas personagens, vinda das cerca de oito semanas que passaram todos juntos a preparar esta série ainda em 2021. E sublinham: apesar de os temas abordados estarem no pico da actualidade, nada foi feito propositadamente.
“Braga” continua assim difícil de definir, mas espera-se que leve sobretudo à reflexão e à descoberta do lado humano por meio de todas as dicotomias inseridas num guião aproximado à realidade. A série chega à televisão às quartas-feiras, às 21h, ficando disponível na RTP Play para ser vista a qualquer hora.