O marginal de bom coração de “Sul” está de volta com o spin-off “Matilha”

Ao lado de Mafalda, Matilha procura endireitar a sua vida, mas o destino tem outros planos para o casal bairrista de Lisboa, que se verá envolvido numa rede de crime organizado internacional.

  • Post author:Beatriz Caetano
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Ritmo, acção, suspense e adrenalina, assim é “Matilha”. Também não fica de fora o alívio cómico para dar tempo ao espectador de respirar entre cenas. O spin-off da série de 2019 “Sul” promete arrebatar a televisão portuguesa com sete episódios dedicados ao casal Mafalda e Matilha cheio de sonhos, mas a quem a vida não tem dado abébias.

É na noite do dia 15 de Janeiro que as personagens de Afonso Pimentel e Margarida Vila-Nova regressam ao ecrã com a RTP, trazendo com eles uma dinâmica já conhecida do público que assistiu à história onde tudo começou.

Continuam a viver num bairro pobre, mas Mafalda tem finalmente um contrato de trabalho e Matilha está a tentar – e a falhar – endireitar-se. Se até então o marginal de bom coração cometia uns pequenos delitos aqui e ali como forma de equilibrar as escassas finanças, tudo vai mudar quando se cruza com um big fish do crime internacional.

MATILHA

Pensar-se-ia que regressar a uma personagem que já se interpretou é “canja”. Porém, Afonso Pimentel revela que o interregno de cinco anos que separa “Sul” desta nova aposta obrigou a redescobrir quem é Matilha, como pensa e como age. E acresce mais um obstáculo: não imitar aquilo que já se fez.

A personagem é a mesma, é certo, mas a fase da vida é outra, o que requer um novo mindspace. Tal como na vida real uma pessoa muda em meia década, o mesmo acontece com alguém ficcional e o trabalho do actor é encontrar essas diferenças, dando-lhes novas formas.

Para o protagonista, este é um papel com muita fisicalidade, graças ao sem fim de acção que espera Matilha. À data das gravações houve um atraso de cerca de seis meses devido a uma fractura sofrida por Afonso Pimentel num dos braços. Mas este contratempo não só permitiu que tudo acabasse por sair como planeado, sendo possível coreografar todas as cenas necessárias, como deu a oportunidade ao intérprete de participar em “Rabo de Peixe”, gravada na mesma altura que “Matilha”.

Afonso Pimentel no papel de Matilha na série matilha, spin-off de sul, da arquipélago filmes e rtp
Afonso Pimentel/Matilha | ARQUIPÉLAGO FILMES

MAFALDA

Ao lado de Matilha encontramos Mafalda, a companheira de todas as ocasiões, “na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza”. No caso destes dois, predomina a pobreza, mas prevalece a vontade de lutar por algo melhor. Mafalda é a mesma e não é, assim como Margarida Vila-Nova que também encontrou neste regresso ao mundo criado por Edgar Medina um desafio inesperado.

«Achei que era mais fácil regressar a uma personagem que já tinha sido feita. É engraçado como as personagens são pautadas pela nossa maturidade, fase de vida, pela forma como abordamos um texto e encaramos a realidade», diz a actriz no evento de apresentação da série. «Mas por outro lado foi muito prazeroso voltar a uma personagem numa outra história com outro contexto e dinâmica. Nunca senti que estivesse a fazer uma repetição de algo.»

Aquilo que se repete e se intensifica devido ao maior tempo de antena é a química entre o par romântico desta história, conseguido pelas interpretações dos dois protagonistas. Fazer transparecer em ficção um relacionamento como o de Mafalda e Matilha consegue-se graças à amizade, confiança e entrega que existe atrás das câmaras entre Margarida Vila-Nova e Afonso Pimentel. Ambos revelam ser amigos de longa data, o que facilita em certa medida o desempenhar de alguns papéis, acrescentando-se o «enorme respeito» que têm pelo trabalho um do outro.

«Só resulta porque nos respeitamos e confiamos muito um no outro, sabemos sempre que onde eu estiver e ele estiver o outro vai estar lá e ninguém vai cair», diz a actriz, em entrevista ao TV Contraluz. Já Afonso Pimentel afirma que a sua “parceira de crime” não chega com uma coisa pronta, mas sim com propostas a serem trabalhadas. «Temos uma relação muito gira que ultrapassa a parte profissional e tem resultado bem, porque estacionamos o ego lá fora.»

Margarida Vila-Nova no papel de Mafalda na série matilha, spin-off de sul, da arquipélago filmes e rtp
Margarida Vila-Nova/Mafalda | ARQUIPÉLAGO FILMES

FUÇAS

Para toda a história de um casal que quer uma vida melhor tem de existir um vilão que neste caso dá pelo cognome de Fuças e é interpretado por Ricardo Pereira. É ele o big fish do crime internacional, que leva Matilha por caminhos ainda mais apertados de uma vida já ela sinuosa.

Agastado por uma carreira de Bandido com “B” grande, Fuças demonstra na pele as marcas de uma vida também ela difícil, seja por escolha própria ou porque o destino assim o ditou. Implacável desde o primeiro segundo em que aparece nesta série, a personagem não irá mudar até ao fim, garante o actor que lhe dá vida.

Os espectadores podem assim esperar uma personagem dura, fria e cruel, com um sorriso calculista, personalidade por si só demonstrada na forma como se apresenta. O processo de construção da caracterização de Fuças levou um mês, ao longo do qual o actor trabalhou com a equipa responsável para encontrar os detalhes perfeitos, fossem os brincos, os anéis, a roupa ou as tatuagens e a sua tonalidade para demonstrar a passagem do tempo.

«Quando se perde tempo na caracterização revela que ela está a contruir algo que te vai distanciar ao máximo ou de outras personagens feitas ou de ti mesmo. Isso é fantástico, é tudo o que um actor deseja», diz Ricardo Pereira ao TV Contraluz.

Ricardo Pereira no papel de Fuças na série matilha, spin-off de sul, da arquipélago filmes e rtp
Ricardo Pereira/Fuças | ARQUIPÉLAGO FILMES

CLARA

Numa narrativa onde o foco é o crime tem, claro, de haver polícia, mas já lá vamos. Onde há crime há também uma jornalista em busca da verdade e de «fazer algo mais pela sua carreira do que escrever horóscopos na redacção». Essa personagem chega pelas mãos de Catarina Wallenstein, que descreve Clara como «muito divertida» e o «fio condutor que puxa o avanço da história».

A actriz revela que à medida que a sua investigação avança, o espectador vai ficando a par dos acontecimentos pelos seus relatos, já que ela consegue estar sempre no centro da acção. A sucessão de acontecimentos vai ainda levá-la a questionar os seus limites morais e a pôr em perspectiva o que de facto é certo ou errado.

Catarina Wallenstein no papel de Clara na série matilha, spin-off de sul, da arquipélago filmes e rtp
Catarina Wallenstein/Clara | ARQUIPÉLAGO FILMES

AS OUTRAS PERSONAGENS

Já temos as personagens sofridas, o vilão e a jornalista que procura saber demais, mas uma série é feita de muitos outros intervenientes. Entre eles os elementos da polícia que têm de decifrar o que se está a passar depois de um corpo dar à costa, encabeçados pelo intuitivo inspector Lacrau (Miguel Borges) que tem por costume “meter o bedelho” onde não é chamado e ignorar as regras que deve cumprir. Ao seu lado estará a chefe Madalena (Maria João Bastos), que tem de o colocar no lugar, mas que ainda assim procura ajudá-lo.

O Tio Nuno (António Durães) também fará parte da trama, enquanto antigo combatente da Guerra Colonial, a quem a passagem do tempo e os eventos traumáticos não têm perdoado na idade já avançada. É a sobrinha Mafalda que o reconforta e procura ajudar.

No lado dos maus estará ainda Hitman (Leandro Lima), também ele membro de uma organização de crime, que chega a Lisboa para ajudar a resolver o problema da carga desaparecida do irmão Fuças.

“Matilha” entra então de rompante nas televisões dos portugueses esta segunda-feira, com a exibição de um episódio por semana. A série também pode ser vista, na íntegra, na plataforma de streaming Prime Video. Acelerada, com dinâmica e ritmo, esta série sela uma promessa de sete episódios onde não falta o suspense e a leveza cómica, assim como uma afectividade ao lado bairrista de Lisboa, cheia de referências portuguesas.