“Projeto Global”: uma série sobre a polarização num Portugal novamente livre

O que acontece depois de conquistar a liberdade? Em "Projeto Global", a democracia é posta à prova no rescaldo da Revolução dos Cravos conquistada no ano de 1974.

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Ivo Canelas em "Projeto Global" | PEDRO PINA/RTP

Aos 50 anos do 25 de Abril de 1974, celebra-se a liberdade. Celebram-se os direitos conquistados, a independência e a expressão. Sobre o dia 25 de Abril de 1974 não falta conteúdo televisivo que lhe faça jus, que expresse por palavras e imagens como foi viver aquele dia de conquista.

E depois de conquistar a liberdade? Chega “Projeto Global” – uma produção com o cunho RTP que irá focar-se no retrato da juventude do pós-25 de Abril, com medo, com sonhos, com ambições e dúvidas, mas que continua a lutar no rescaldo da Revolução dos Cravos. “Projeto Global” será desconstruída num filme e numa série, onde o primeiro entregará a história numa perspectiva macro e a série irá ajudar a desconstruir alguns dos momentos retratados no filme.

« [É sobre] uma série de malta que tinha 15 a 16 anos quando se dá o 25 de Abril e que é politizada nessa altura», confessa o realizador Ivo Ferreira ao TV Contraluz, sobre a sinopse do projecto. «Eles sentiram que o papel deles era continuar a fazer esta revolução, que tinha acabado para outros. »

Poderia assumir-se que “Projeto Global” seria o espelho das FP-25 – uma organização terrorista de extrema-esquerda que operava em Portugal na década de 80, no rescaldo da revolução – mas não seria justo para o retrato que Ivo Ferreira pretende da série, que confessa que apesar de existirem vários momentos retirados e inspirados em cenários reais, a série e o filme pretendem ser uma interpretação de uma época conturbada.

Os dois lados da revolução em “Projeto Global”

Uma das personagens que irá compor este retrato é Rosa, protagonizada pela actriz Jani Zhao. «A Rosa é uma jovem mulher, mãe, actriz, que se politizou, como a maior parte das pessoas nesta altura», revela Jani Zhao. «É mulher caótica nas suas rotinas», oferece entre risos.

Construir Rosa não foi tarefa fácil para a actriz, mas a sua herança familiar, com uma família que viveu o «regime ditatorial bastante severo de Mao Tze Tung», permitiu-lhe compreender «o medo, o desespero, a aflição e o descontentamento» que a sua personagem estaria a passar, juntamente com todas as outras.

«A Rosa nunca duvidou de que podia ter algum contributo», sublinha Zhao, acrescentando ainda que a sua personagem é uma protagonista que demonstra «o espectro do ser humano» na sua «gestão entre a vida privada, profissional e política». É uma personagem que, de acordo com a actriz, acaba por ser o binóculo do espectador para o posicionamento e luta interna e externa das personagens e para o papel da mulher nas décadas de 70/80 em Portugal.

Se em todas as revoluções existem dois lados das trincheiras, “Projeto Global” não será diferente. Promete a actriz que o espectador vai poder ver os dois lados da moeda, já que o intuito desta produção é precisamente «parar, reflectir e tentar trazer questões» ao invés de «trazer respostas». Não pretendendo ser «uma aula de história», esta é uma produção que «vai trazer muitas questões» para quem a acompanhar.

Do outro lado das trincheiras da Rosa de Jani Zhao, e dos jovens activistas que protagonizam esta história, encontram-se personagens como a interpretada por Ivo Canelas no seu papel de Inspector-Chefe da Polícia Judiciária cuja missão é «tentar deter as FP-25», segundo revela o actor em declarações ao TV Contraluz.

Jani Zhao, “Projeto Global” | PEDRO PINA/RTP
Gonçalo Waddington, “Projeto Global” | PEDRO PINA/RTP
Gravações de “Projeto Global” com o realizador Ivo Ferreira | PEDRO PINA/RTP
Ivo Canelas, “Projeto Global” | PEDRO PINA/RTP
José Pimentão, “Projeto Global” | PEDRO PINA/RTP
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Nesta dualidade polarizada entre duas frentes num Portugal pós-revolução que será retratado nesta produção, Ivo Canelas considera uma das mais importantes questões que “Projeto Global” coloca na mesa de debate: Serão todos os meios «válidos para defender uma democracia»?

Esta questão e tantas outras dão mote para a expectativa daquilo que será “Projeto Global”. «Espero que a série ao retratar um período tão conturbado da nossa história nos ajude a todos a refletir sobre o profundo desafio que é manter uma democracia saudável e dinâmica », confessa Ivo Canelas. Jani Zhao partilha do mesmo sentimento, revelando ainda que viver nesta liberdade conquistada no dia 25 de Abril de 1974 «é um direito e um dever».

Acrescenta ainda que era importante que “Projeto Global” pudesse «servir de inspiração, força e motivação» para que os portugueses sejam «mais ousados, mais rebeldes e mais corajosos».

“Projeto Global” irá contar ainda com nomes como Gonçalo Waddington, Rodrigo Tomás, José Pimentão, entre outros, no seu elenco. Apesar de ainda não ter data de estreia definida, ambos filme e série serão transmitidos pela RTP.