“The Walking Dead” e comédia, à partida, não andam de mãos dadas. Num mundo onde a morte reina e a sobrevivência é o pão nosso de cada dia, rir estará bem lá no fundo da lista de prioridades. Contudo, isto não se aplica ao spin-off “Tales of the Walking Dead”, originalmente estreado em 2022, mas que chega agora à televisão portuguesa com o AMC.
Mas nem só de risadas se faz esta aposta de seis episódios antológicos. Cada um é dedicado a um género ficcional diferente, sendo que apenas o terceiro se apresenta fiel ao ambiente a que “The Walking Dead” habituou os seus espectadores.
Quem leu o título do artigo e pensou “Mais uma série de ‘The Walking Dead’?”, I get it. Não era uma produção necessária a este universo que já vai longo – como “The Ones Who Live”, por exemplo, que remata finalmente a história de Rick Grimes –, mas quem já digeriu as 11 temporadas da série-mãe, as oito de “Fear the Walking Dead”, as duas de “World Beyond” e a primeira de “Daryl Dixon” (que tem muita qualidade, diga-se de passagem), pode muito bem ver mais seis episódios de “Tales of the Walking Dead”.
E voltando ao género ficcional diferente para cada episódio. É isso que de facto distingue este spin-off: podermos soltar umas gargalhadas com Terry Crews e Olivia Munn à medida que passam de enemies to friends ou com a inusitada recriação de “Groundhog Day”, em que duas rivais se encontram presas num time loop e tentam escapar à morte inevitável das formas mais irreverentes. Saltamos ainda pelo noir e pelo terror – como se não bastassem os zombies também pode haver assombrações? Talk about karma.
No meio de todas estas perspectivas de apocalipse vivido por personagens que não conhecemos, há uma que se destaca. “Dee” é o episódio dedicado à mulher que existiu antes de Alpha, a líder dos Whisperers, e que proporciona finalmente um outro lado a esta vilã que marcou alguns dos momentos mais temíveis de “The Walking Dead”. Não esperem, porém, um deep dive no passado da personagem. Esperem, sim, mais uma grande performance de Samantha Morton, que reencarna Alpha como se tivesse sido ontem que envergava a máscara de uma morta loura todas as semanas nas nossas televisões.
“Tales of the Walking Dead” traz ao franchise uma leveza que ainda não tinha sido possível incorporar no ambiente pesado que a temática dos mortos-vivos pede. Não inventa a roda, mas também não a atrapalha no caminho que aparentemente continua a percorrer.