Se há nome de destaque na música popular portuguesa é o de Tony Carreira. Seja pelo seu “Sonho de Menino”, seja pela extensa carreira e salas sem fim esgotadas, uma após a outra, seja pela carreira musical dos seus filhos.
O seu legado vai para além de um homem. A história que se conta em “Tony”, a nova mini-série que junta a Prime Video e a TVI numa produção See My Dreams, é a de um pequeno rapaz chamado António, vindo de uma aldeia recôndita do Portugal de 1970, que tinha um sonho maior do que si mesmo.
A conceptualização, argumento e coordenação desta produção portuguesa ficaram nas mãos de Miguel Simal e João Félix, que idealizaram uma visão para esta produção de quatro episódios que pudesse facilitar ao espectador conhecer um pouco mais deste cantor português.
“Tony” decorre em dois espaços temporais com uma clara intenção de destacar o pequeno António que emigrou para a França e o Tony que decide voltar e conquistar o país que o viu nascer com a sua musicalidade.
O conceito está bem conseguido, sendo fácil identificar imediatamente o paralelismo entre estas duas avenidas temporais do músico onde conhecemos uma criança e um adolescente e, por outro lado, um jovem adulto que lidou com a pobreza, com o trabalho árduo e com os sobressaltos necessários para se tornar num músico de sucesso.
Estão de parabéns os pequenos Gabriel Conde e Duarte Estrela, que dão vida ao músico poruguês durante as suas camadas jovens. Carlos Félix é quem se torna na versão adulta de Tony e há que aplaudir a sua dedicação à personagem que interpreta. Nem sempre é fácil “interpretar os vivos” sem se tornar uma cópia-barata, mas Félix conseguiu essa aproximação que, claramente, continua a ser fruto de ficção.
Quem também merece uma palmada nas costas, bem à “intiga”, é Duarte Grilo que é uma delícia de caracterização de um pai português emigrante, que só quer que os filhos trabalhem e ganhem dinheiro para se sustentarem e não passarem fome.
Mas o sonho do pequeno António era maior que esse.
Nem tudo nesta mini-série correu bem. Existe ainda, na televisão portuguesa um registo muito grande assemelhado às técnicas de representação comumente vistas numa telenovela, e esta produção dessa não se safou. O exagero dos gritos e da violência ainda é muito presente na contracena destes actores, especialmente nas cenas decorridas na juventude de Tony.
Talvez para uma série que queira ser maior do que si mesma, não fosse a melhor abordagem.
Também a banda sonora deixa a desejar. O conceito inicial que intercala as músicas de autoria de Tony Carreira com o estabelecer da sua história de infância funciona muito bem, tão bem, que a banda sonora que não inclui a discografia do cantor é completamente deslocada. Se a ideia era criar a sensação épica, não foi conseguida. Ter uma cena de pastoreio associada a uma sequência de violinos intensa é só deslocado.
Mas “Tony” consegue uma coisa: É uma janela discreta mas carinhosa para a vida de Tony Carreira, que convida o espectador a embarcar numa viagem de descoberta deste artista luso, das suas motivações e da sua história de vida para se tornar “O” Tony Carreira.
“Tony” está disponível na íntegra na plataforma Prime Video a partir de dia 7 de Dezembro e será transmitida semanalmente na TVI.