Do latim finis terrae, n’os confins do mundo, “Finisterra” traz as bruxas de volta a Aljezur. Ou será que…?
O ano era 1943 quando, em plena II Guerra Mundial, e apesar de Portugal ter declarado neutralidade face ao conflito, a realidade de Aljezur é outra: há ataques aéreos junto à costa e um medo que rebate em crescendo, reflectido no olhar de uma população marcada por um passado de bruxaria que aparenta não ter desaparecido.
«Cada um conhecia muito bem cada um dos elementos históricos e, entre conversas, tornou-se irresistível juntá-los», revela Guilherme Branquinho, um dos criadores da nova aposta da RTP, ao TV Contraluz. Apesar da lenda das bruxas de Aljezur ter decorrido anos antes do conflito da II Guerra Mundial, confessa que, entre conversa com Leone Niel, co-criador e realizador de “Finisterra”, «tornou-se irresistível juntar [os dois acontecimentos]».
Assim surge a história de Celeste, uma jovem órfã de uma família herege acusada de ser a “herdeira do mal” que acaba por ser traída pelos que lhe são próximos e é forçada a começar a busca pela sua verdade.
Celeste é uma pessoa com «pouco condicionamento social e cultural», como a descreve Leonor Vasconcelos, que dá vida a esta jovem que «vive numa época antitética à sua natureza». No meio de uma sociedade condicionada e de ideias fixas, de política e pouca maleabilidade, Celeste torna-se a antítese de tudo o que era Aljezur de 1943 – «instinto, curiosidade e fascínio».
A história de Celeste é contada na sua perspectiva, sob um pano de contraste com o jovem Afonso, interpretado por Rui Pedro Silva, que, por sua vez, procura pertencer ao condicionamento imposto pela sociedade patriarcal dos anos 40, pintada de conflito social e político sob o qual se quer posicionar e procura pertencer de certa forma a um dos lados da polarização política, que determina ser o correcto.
Ainda assim, é na sua relação com Celeste que se vê a quebra da sua máscara social. «Era importante deixar que me tirassem o tapete quando dou de caras com uma situação que quase destrói este escudo que criei enquanto Afonso», revela Rui Pedro Silva sobre a forma como decidiu encarar a personagem a que dá vida em “Finisterra”. Afonso torna-se o reflexo da sociedade em seu redor, quebrada de quando em vez pelo desconhecido, pela magia.
A narrativa que gravita em torno destas duas personagens em “Finisterra” estende-se para além do conflito da Guerra, ou das superstições de um povo que se fez ouvir pelo guião de Guilherme Branquinho e Leone Niel. Acaba por ser também uma homenagem às vidas que viveram estes tempos e um pontapé de saída para o universo que quiseram criar.
«Decidimos que tínhamos de ir aos lugares onde estes eventos aconteceram e falar com as pessoas que viveram isto em primeira mão», confessam os criadores. Foi importante que estas histórias tivessem o papel de âncora à realidade, com a ajuda de «pequenos hábitos e brincadeiras» que foram conhecendo à medida que foram realizando entrevistas e que também serviram como pano de fundo para arrancar com a história que hoje existe em “Finisterra”.
Por entre bruxas e politiquices numa vila pautada pela falta de recursos e desenvolvimento, uma coisa é certa: “Finisterra” propõe-se a ser uma série que «dialoga com a maleabilidade da verdade», ao mesmo tempo que os criadores garantem que é também «estimulante visualmente, intelectualmente e emocionalmente».
“Finisterra” estreia hoje, dia 10 de Março, na RTP e conta com a participação de Leonor Vasconcelos, Rui Pedro Silva, Miguel Guilherme e Gonçalo Waddington nos papéis principais.