Num momento em que, mais do que nunca, se fala na controvérsia no mundo do futebol – em grande parte devido à organização do Mundial de Futebol de 2022 no Qatar -, a Netflix decide lançar uma docuseries sobre o grande escândalo de corrupção na FIFA que veio a público em 2015.
Esta série documental, repartida em quatro episódios, leva o espectador numa viagem ao início da construção da organização FIFA como a conhecemos hoje, especialmente a partir da liderança de João Havelange. Este advogado brasileiro foi o grande pioneiro da FIFA como organização mundial de poder e relevância. Havelange foi o primeiro responsável pela introdução das movimentações políticas no mundo do futebol e, dessa forma, entregou o pontapé de saída para décadas de movimentos questionáveis e pouco desportivos na organização. Esta é a visão dada pela docuseries, que depressa sai da época de Havelange, num primeiro episódio, e entra na subida de Joseph (Sepp) Blatter ao poder até aos dias de hoje.
Desde imagens reais de conferências, reuniões e eventos, a conversas gravadas e depoimentos de vários elementos envolvidos ao longo dos anos, é nesta produção que encontramos o resultado das investigações feitas à FIFA, acusada de corrupção e lavagem de dinheiro. São vários os intervenientes que conversam com os interlocutores, incluindo o próprio Sepp Blatter, que defende a sua posição na organização.
Para além de Blatter, que é a personagem principal, o espectador é também convidado a conhecer outros elementos fulcrais das demais organizações envolvidas nestas acusações. Entre eles estão Michel Platini – ex-presidente da UEFA (União das Associações Europeias de Futebol) e ex-futebolista, Jack Warner – presidente da CONCACAF (Confederação da América do Norte, Central e Caraíbas) entre 1990 e 2011, e Chuck Blazer, o seu braço direito e vice-presidente da organização. Todos eles, em momentos distintos, envolvidos em situações acusatórias de corrupção e fraude.
Estes são os principais intervenientes deste escandaloso caso – cada um pelas suas razões –, mas o mundo não é preto e branco e, assim, existem depoimentos feitos em entrevista para esta série documental que ajudam a entender um pouco mais relativamente ao Caso FIFA. De conselheiros pessoais de membros da organização, a Jérome Valcke e membros do Comité envolvidos nas situações, a todos é dada a oportunidade de responder às questões da produção relativamente a momentos e factos expostos nesta acusação.
Nos últimos episódios, o golo é marcado directamente na baliza do Qatar. Desde o momento da eleição do país para erguer a competição Mundial de Futebol de 2022, que a FIFA tem sido questionada quanto aos seus motivos. A história é aqui desconstruída e desfiada numa espécie de encaixe cronológico sobre como a concepção da FIFA como organização mundial e toda a “nuvem negra” que a rodeou, foram passos dados num caminho que culminou na eleição do Qatar para erguer esta competição. Não passam despercebidas as notícias chocantes sobre as mortes de trabalhadores durante a construção dos estádios, nem a ironia de haver uma competição mundial deste desporto rei que se diz de todos num país onde a existência de direitos humanos básicos é escassa.
“FIFA Uncovered” está disponível na plataforna Netflix e é um conjunto de episódios que permite ao espectador conhecer melhor todos os meandros por detrás de uma das mais polémicas investigações no mundo do desporto, bem como o que se espera para o futuro da FIFA (pós-Qatar) como organização representativa do futebol no mundo.