É já no dia 16 de Janeiro que chega aos pequenos ecrãs portugueses através da RTP “O Crime do Padre Amaro”, uma série que promete ser a adaptação mais fiel até à data da obra literária de Eça de Queiroz. Protagonizada por José Condessa e Bárbara Branco, esta aposta vai mostrar, mais do que o erotismo pelo qual a história é conhecida, a descoberta do amor.
Decorrida em Leira, na década de 1860, a trama acompanha a mudança de Amaro para a cidade, quando é nomeado padre da paróquia depois de o pároco local morrer. O jovem fica a morar em casa de Amélia, “a rapariga mais bonita” da região, e é aqui que, depois de uma troca de olhares, nasce uma paixão proibida impossível de contrariar.
E foi mesmo na cidade onde Eça de Queiroz se inspirou para escrever este livro que mais de um século depois a série seria gravada, por “teimosia” do realizador Leonel Vieira: «Determinei que queria fazer o projecto em Leiria, porque era ali que a história do Eça acontecia.» A praça em frente à Sé encheu-se de terra, os décors e guarda-roupas vestiram-se a rigor para encarnar o século XIX e o amor entre Amaro e Amélia nasceu para a televisão.
Os actores – a escolha certa para “O Crime do Padre Amaro”
Chegados aos respectivos papéis por escolha do director de elenco Joaquim Nicolau, José Condessa e Bárbara Branco revelam em entrevista ao TV Contraluz o privilégio que foi poderem fazer parte da adaptação de um livro como “O Crime do Padre Amaro”.
«Percebi que era uma coisa extraordinária», afirma o protagonista, relembrando a altura em que lhe chegou o convite para dar vida à personagem principal. Fã assumido de Eça de Queiroz e também de Leonel Vieira, José Condessa elogia o método do realizador que «não castra os actores com uma ideia pré-concebida do que quer fazer».
Bárbara Branco partilha da opinião e salienta que a liberdade artística que lhes foi dada – sem deixarem de serem fiéis à história original – contribui muito para o resultado final que se poderá ver no ecrã. «Serviu como uma base muito importante para o nosso trabalho», assegura.
Além disso, foi-lhes permitido respirar em cena e estarem em silêncio, uma mais-valia para o desenvolvimento da química entre as duas personagens. «Parece que estamos a invadir o espaço um do outro. São os silêncios e os tempos que o Leonel nos deu que permitem que isso aconteça na história.»
E quem pensar que os dois actores foram escolhidos por serem um casal na vida real, desengane-se. José Condessa foi o primeiro que Joaquim Nicolau elegeu para o seu «puzzle», seguindo-se Bárbara Branco. Ambos surgiram na mente do também actor pela qualidade do seu trabalho. «’O Crime do Padre Amaro’ é o Amaro. Tinha de escolher primeiro a peça principal do tabuleiro e era o Zé. Sabia que tinha a maturidade física e intelectual para fazer este papel. Por acaso calhou, nem sabia que eles eram namorados.»
Trabalhar na direcção de elenco é «fazer a escolha certa» e Joaquim Nicolau está seguro de acertou em cheio. «Demoro muito tempo a escolher. Faço puzzles na parede do meu escritório. Tiro, ponho, misturo este com aquele. Mas no momento em que os escolhi sei que são importantes. Depois é que faço as conjugações. Não tive dificuldade nenhuma em encontrar estes actores, porque eles ficaram encantadíssimos de fazer Eça de Queiroz.»
Uma história intemporal
Entre amor, paixão tórrida e religião há ainda espaço para algum comic relief que chega pela mão de Libaninho, o “cusco” da história, interpretado por Diogo Martins. Próximo de todos os padres, sabedor de tudo o que se segreda em Leiria e homossexual, Libaninho é muito peculiar. «Nunca tive a oportunidade de fazer uma personagem com tanta riqueza física e emocional, que não se aproxima àquilo que eu sou», revela o actor, em entrevista.
Mas não só destas características se faz “O Crime do Padre Amaro”, seja no livro ou na série da RTP. A crítica social e religiosa é uma das questões que mais salta à vista na narrativa escrita especificamente com esse propósito e que ainda hoje continua actual. «É uma obra universal e as obras universais são tranversais a qualquer tempo e sociedade», afirma José Condessa.
Como tal, espera-se uma história que, apesar de decorrer no século XIX, toca o presente e aproxima-se da nossa realidade. E Joaquim Nicolau garante: «O Leonel [Vieira] não a desvirtuou, pelo contrário, dignificou-a.»
Com uma abordagem mais «ousada» do que as restantes apostas ficcionais da RTP, os seis episódios de “O Crime do Padre Amaro”, produzida pela Volf Enternatinment, vão, por essa razão, ser transmitidos às 22h30, «um horário para adultos», explica José Fragoso na apresentação da série.