“Ahsoka” é uma ode aos fãs com muito fan service. E qual é o problema?

A série não foi feita para quem não conhece os meandros do universo. Poderia ser um ponto negativo, mas neste momento as ligações já são tão intrincadas que será difícil continuar a seguir Star Wars sem ver todas as produções associadas.

  • Post author:Beatriz Caetano
  • Reading time:7 mins leitura
You are currently viewing “Ahsoka” é uma ode aos fãs com muito <i>fan service</i>. E qual é o problema?
DISNEY+

Em 15 anos não é possível sair do Sistema Solar à velocidade a que viaja o Voyager 1, lançado para o Espaço em 1977. Porém, é possível uma personagem animada nascer, viver e saltar para o live-action. Fala-se de Ahsoka, a jovem padawan de Anakin Skywalker que arrebatou corações não assim há muito muito tempo – corria o ano de 2008 – quando se estreou em “The Clone Wars”. Década e meia depois, a heroína está de volta, mais ponderada, mas com a mesma imprudência que sempre a caracterizou.

Sejam fãs há mais ou menos tempo do mundo animado que envolve o universo Star Wars, poucos serão aqueles que não terão ficado rendidos à língua afiada e intuição certeira da Togruta que chega de pára-quedas à vida de Ani e Obi-Wan, a meio da Guerra dos Clones. Quem consegue resistir a esta espécie de Anakin no feminino?

Essa mesma essência criada por Dave Filoni e transparecida pela voz de Ahsley Eckstein, chega-nos agora no formato real com um casting que dificilmente poderia ser melhor. Rosario Dawson tem nela parte de Ahsoka e, gostem mais ou menos ou desgostem por completo daquilo que a nova série trouxe ao franchise, a verdade é que a actriz conseguiu captar todos os pequenos detalhes que fazem desta personagem uma fan favourite: o sorriso matreiro, a pose, o estilo de luta, o manuseio dos lightsabers, o olhar.

Ahsoka é neste live-action uma mulher com 45 anos (mais coisa menos coisa), vivida e experienciada nisto de viajar pelo Espaço a fintar a morte e o Lado Negro da Força. Distante da jovem com 14 anos que não teve outro remédio se não aprender com a prática forçada as artes jedi, a personagem traz à série uma versão evoluída daquela que deixou para trás a Ordem pela qual lutou durante anos e que lhe virou as costas.

É por isso talvez que se sinta um pace vagaroso em certas partes dos episódios, onde se espera uma reacção efusiva e o que se tem é meticulosidade. Tivesse Anakin vivido e talvez encontrasse a mesma sensatez que a sua aprendiz. A expectativa pedia mais acção, é certo, mas tivemos na mesma direito a cenas de luta de uma precisão e beleza inigualáveis no mundo Star Wars.

Uma série que vai muito além de Ahsoka

A série não foi feita para quem não conhece os meandros do universo, que vão muito além dos nove filmes e da recente leva de séries. É uma produção criada à medida para os fãs e com muito fan service. Poderia ser um ponto negativo, mas neste momento as ligações já são tão intrincadas que será difícil continuar a seguir Star Wars sem ver todas as produções associadas. Um pouco como aconteceu com a Marvel.

Estes oito episódios funcionam quase como uma espécie de 5ª temporada de “Rebels”, onde o foco dado à personagem principal é por (muitas) vezes deixado de lado para que outros brilhem. Sabine é tão ou mais protagonista do que Ahsoka na sua missão para encontrar Ezra (e a si própria) e não há problema nenhum nisso.

A despedida destes intrépidos em “Rebels” coloca-os num ponto não muito diferente do que aquele a que a série deu continuação, portanto fazia todo o sentido dar-lhe tempo de antena. E sejamos honestos: podíamos ver muito mais da petulância de Chopper, certo? Podíamos também ter visto mais de Hera e do pequeno Jacen e não teria ficado mal o retorno de Zeb, mas não será certamente a última vez que vimos estes heróis. Assim o esperamos.

A juntar ao leque de caras conhecidas chegam duas novas: Baylon Skoll e a sua aprendiz Shin Hati. Ambos encarnam a personificação do mal nesta série, algo nada novo. Porém, Dave Filoni conseguiu dar-lhes uma consistência profunda, coisa a que já nos tem habituado com as suas últimas apostas.

Chegamos ao fim e não podemos não questionar o que pretende Baylon alcançar, que vai muito além de um novo império. Certamente estará relacionado com os deuses Mortis – o pai (o equilíbrio), o filho (o Mal) e a filha (o Bem). Quem viu as séries animadas saberá parte do seu significado e o porquê de a estátua da filha estar destruída. A questão é: como está Baylon relacionado com este lado mítico do universo?

Ray Stevenson morreu no início deste ano, portanto não fará parte de uma próxima temporada de “Ahsoka”. Fica assim também a dúvida de como os criadores vão dar seguimento a esta storyline, embora a morte de actores não seja impedimento para manter as personagens em cena, como é exemplo Carrie Fisher e a sua Leia.

O grande vilão de quem nunca ninguém ouviu falar

“Ahsoka” trazia uma promessa: o regresso do temido Almirante Thrawn. Uma vez mais, este vilão cai do céu para muitos fãs, com toda a certeza. Mas saibam que Lars Mikkelsen, que já tinha dado voz à personagem em “Rebels”, não o podia ter interpretado de melhor forma. O ar sempre tranquilo que faz temer mais do que um temperamento enraivecido está lá, assim como o olhar calculista. Thrawn está livre e agora é esperar para ver como será derrotado, já que nunca é mencionado na cronologia que se segue.

Com Thrawn chegam sempre novas formas mirabolantes de derrotar os maus e alcançar novos níveis de consciência. Um deles é o “mundo entre mundos” que vimos no episódio cinco “Shadow Warrior”, quando Ahsoka cai ao mar em Seatos. E se alguma vez houve uma coisa bem feita em Star Wars foi este episódio em específico. O regresso de Anakin Skywalker é um momento que viverá para sempre nos corações de todos os que acompanham estas aventuras com afinco.

Dave Filoni tomou como missão despedaçar em mil pedaços a alma dos espectadores ao colocá-lo frente a frente com a sua Snips numa viagem ao passado e aos momentos mais amargurantes. Hayden Christensen pode voltar a brilhar na personagem que marcou a sua carreira e mostrar aos haters que não havia ninguém melhor para dar vida a este fallen jedi. Se há personagem subestimada neste mundo galáctico é a de Anakin Skywalker, muito por culpa do guião que a conduziu na prequela cinematográfica. Cada um trabalha com o que pode e Christensen deu o seu melhor. Agora, redime-se de algo que nem tem culpa ao acompanhar Ahsoka no seu percurso pelo auto-perdão.

A renovação ainda está por acontecer e fica sempre a dúvida, até porque está a ser preparado um filme que vai juntar as timelines de “The Mandalorian”, “The Book of Boba Fett”, “Ahsoka” e outras séries do universo. Quase ao estilo “Avengers”. Porém, mais oito episódios de “Ahsoka” poderá ser aquilo que falta para dar o mote a esta aposta cinematográfica e colocar as personagens no sítio certo.