Mais de três meses passaram desde que se deu início à greve dos actores e actrizes de Hollywood, levada a cabo pela SAG-AFTRA (Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists) – uma das maiores uniões laborais de performers norte-americanos e/ou representados no entretenimento norte-americano.
Dia 13 de Julho de 2023 marcava a data em que a greve dos actores se iniciava em Hollywood, numa espécie de cooperação com a WGA (Writers Guild of America), que já estava em greve desde o início de Maio. Após várias tentativas falhadas de negociação com a organização representante dos grandes estúdios de produção, a AMPTP (Alliance of Motion Picture and Television Producers), a SAG-AFTRA tomou a decisão de entrar em greve até poder obter um novo acordo para os seus membros.
Assim, na procura de melhores condições em matéria de compensação monetária, potencial ameaça da inteligência artificial (IA) e segurança contratual, a SAG-AFTRA e os seus membros levaram a cabo uma greve onde se levantaram manifestações quase diárias junto aos estúdios e que impediram a produção de conteúdos de grandes produtoras como Netflix, Amazon, Disney, entre outros.
No passado dia 8 de Novembro, após sucessivas tentativas de negociação contratual, a SAG-AFTRA comunicou aos seus membros e públicos que tinham, finalmente, chegado a tentativa de acordo, dando como encerrada a greve a partir da 00h01 de dia 9.
De acordo com o comunicado da união laboral, a SAG-AFTRA expressou-se “entusiasmada e orgulhosa” com o resultado a que chegaram, neste acordo que inclui “aumentos de compensação monetária ‘acima da média’, aprovisionamento de condições de compensação e autorização relativas a matérias de IA e, pela primeira vez, o estabelecimento de um bónus de participação em streaming“. Ao mesmo comunicado, acrescentam existir também, neste novo contrato, melhorias de condições de saúde e pensão e protecção nas demais categorias que o contrato englobará.
O acordo tentativo redigido irá ser revisto pelo comité nacional da SAG-AFTRA antes de ser considerado definitivo e, até lá, não irão ser partilhados mais detalhes.
“Agradecemos aos nossos ‘irmãos’, os trabalhadores que são a força desta indústria, pelos sacrifícios que fizeram enquanto apoiaram a nossa greve e a greve da WGA“, declara a SAG-AFTRA, sublinhando que irão sempre estar em solidariedade e presentes quando os membros assim precisarem da sua representação. “É graças a vocês que estas melhorias foram possíveis.”
O novo acordo pós-greve
Após avaliado o pré-acordo elaborado entre a SAG-AFTRA e a AMPTP, que deu então origem ao novo contrato que irá ditar as normas de contratação dos membros da união laboral dos performers de Hollywood, as normas foram imediatamente publicadas pela própria na sua página web.
Entre as normas conquistadas pela SAG-AFTRA estão os aumentos salariais graduais, que incluem um aumento de 7% para o início do acordo, 4% efectivos em Julho de 2024 e 3.5% efectivos em Julho de 2025. O propósito é o de quebrar o padrão industrial de inflacção e crescimento exponencial de lucro sem retorno.
Para além disso, irá também existir um aumento compensatório de 11% para actores e actrizes figurantes a partir de Novembro de 2023.
As contribuições para o fundo de pensões e saúde irão aumentar 43% para produções de 1h e 61% para produções de meia hora, por forma a que os actores e actrizes possam continuar a beneficiar dos fundos adicionais consoante o seu trabalho seja continuado.
Ainda em matéria de compensação, foi também introduzida no novo contrato uma compensação para performers a trabalhar em contexto de streaming, através de um bónus substancial adicional às actuais compensações residuais. A grande parte dessa compensação adicional está dependente da produção em questão atingir certos requerimentos em termos de audiências, sendo que o remanescente será aplicado e distribuído via fundo externo.
A grande luta da SAG-AFTRA nos dias que antecederam à redacção do acordo em matéria de IA resultou em normas proteccionistas para os actores que incluem consentimento informato e compensação pela criação e utilização de réplicas digitais dos membros da união, quer tenham sido criadas em set ou licenciadas para uso de terceiros.
O mesmo contrato, que durará até ao verão de 2026, contempla ainda aumentos compensatórios para os departamentos adjacentes ao dos actores, como guarda-roupa, duplos, maquilhagem, entre outros, bem como normas mais justas para os processos de audições e pacotes de deslocação.
No total, o novo contracto deve gerar mais de 1 bilião de dólares em compensação e fundos.
Artigo actualizado a 14/11/2023, às 15h18, com informação sobre o novo acordo da SAG-AFTRA com a AMPTP.
